Recentemente, navegando pelo Instagram, me deparo com o seguinte anúncio: "Venha aprender a fazer fotos profissionais com IA e nunca mais pague um fotógrafo nem perca horas fazendo um ensaio". 
Cara, confesso que esse anúncio me transportou para uma realidade paralela, me peguei vislumbrando um mundo distópico, onde a humanidade não sabe mais como *viver*, onde só fazemos tudo pensando no resultado final e em como nos sobressairmos e sermos superiores (ou pelo menos garantir que nos sintamos assim) aos demais. Essa competição de egos vai ser a nossa ruína como espécie. 

Então, pera lá, deixa eu ver se entendi...estamos prestes a perder a batalha para a Inteligência Artificial e tá todo mundo super confortável com isso? De repente não escrevemos mais, pois o Chat GPT faz isso por nós. Não precisamos mais ler, porque os apps de audio-books resumem os livros e nos mandam em um áudio de, no máximo, 15 minutos. Vários cargos em empresas estão deixando de existir para dar lugar à IA. Influencers, escritores, músicos, compositores e agora, até os fotógrafos entraram na dança. Não precisamos mais de arte genuína, a IA gera isso para nós. (?)

A discussão central desse texto não é o avanço tecnológico. Esse, eu acho incrível. IA é uma ferramenta e tanto, a questão, como sempre, caros leitores, é *como* a utilizaremos. Um martelo é uma boa ferramenta em uma obra, mas pode se tornar uma arma. Tudo depende de como ESCOLHEMOS usar. O que faremos com o martelo, com a IA e com a VIDA. 

Essa distopia que me veio à mente, fixou em mim 2 perguntas cruciais A 1° é "E a graça, onde fica?" e a 2° é "Para que estamos tão desesperados atrás de economizar tanto tempo?" 

Porque, percebam, uma pergunta desconstrói a outra. Na medida que eu abro mão justamente da graça que é viver, dos PROCESSOS, o processo de escrita desse texto por exemplo, de um livro, de criar uma receita nova, de processos tão gostosos, na minha humilde opinião. O processo de criação de um book fotográfico, tanto da parte de se arrumar para se sentir bem na foto, tanto do preparo da foto, da captação do momento exato, do OLHAR de uma alma por trás de uma lente! O processo de composição (e execução) de uma canção, o processo de elaboração de pautas, de adquirir conhecimento e de repassar esse conhecimento de forma genuína. Acho que é isso: estamos abrindo mão da genuinidade. 
E para que? Para economizar TEMPO...e para que? Para o gastarmos nas redes sociais? Vidrados em vídeos de 15segundos no TikTok? Ou vendo fotos ARTIFICIAIS e fajutas no Instagram? Estamos abrindo mão da genuinidade, da legitimidade, para consumirmos conteúdos ilegítimos e fakes?! 
Faz sentido?
A indústria justifica a troca de mão de obra humana pela robótica, como sendo mais prática, incansável, barata e dizendo que a produção será infinitamente maior, porém, se não tivermos mais os nossos empregos, quem vai consumir essa enorme demanda da fabricação? 
Eu sei, eu sei...anda difícil encontrar sentindo na maioria das coisas que a humanidade anda fazendo ultimamente. Mas tudo tem que ter um limite. Vamos precisar encontrar (e rápido!) um equilíbrio, caso contrário, em pouquíssimo tempo estaremos divididos em 2 grupos de humanos: os que abriram mão de qualquer forma de pensar, sentir e raciocinar e se deixaram sucumbir pelo TikTok e os que resistem e pegam a contramão. Eu com certeza serei do segundo grupo, irei para as colinas, formarei uma colônia de resistência, encontraremos uma economia paralela porque precisaremos sobreviver e eu lutarei o máximo que puder para preservar a GRAÇA da vida, para jamais me esquecer de como é bom estar VIVA. 
E antes que venham me atacar, saibam que eu não sou contra a tecnologia, eu sou contra a superestimação dela e a desvalorização (e degradação) humana. Meu medo é que deixemos de experienciar, de criar, de sentir, de produzir, de aprender, de fazer conexões humanas, para vivermos através de telas. 
Com um planeta tão espetacular à nossa volta, esse seria um suicídi* cruel e violento, não acham? 

Bruna