Não. Esse não é um texto motivacional, nem para exaltar o quão guerreiras nós, mulheres, somos. Hoje eu quero falar da solidão que acompanha mulheres fortes. E não é aquela solidão romantizada, disfarçada de autossuficiência que a nossa sociedade tanto gosta de exaltar como se fosse um troféu, um atestado de competência. 

Quero falar sobre a solidão que dói, tanto quanto os ombros e os pés ao final do dia. A solidão que segue acordada enquanto todos dormem. A solidão que continua, mesmo quando temos companhia, pois ser forte nos isola em um lugar de difícil acesso.  A solidão que só nós sabemos que existe e o quão pesada pode ser.

Ser uma mulher forte, que batalha, que cuida de todos, que dá conta das contas, pode ser bonito e engajar no Instagram, mas na vida real essa independência, essa postura, tem um preço. E ele é alto. Todo mundo se acostuma fácil a ter alguém que se prontifica, que toma a frente, que resolve, que cuida. E com o passar do tempo esse costume se acomoda tanto que até nós mesmas passamos a encará-lo como normal. Acontece que junto dele vem um cansaço proporcionalmente forte que, se não cuidarmos, se torna crônico. 

A solidão das mulheres emocionalmente estáveis e independentes tem sido o assunto mais comentado nas rodas de converso que frequento. E olha que eu converso com mulheres todos os dias. Dificuldade de encontrar parceiros à altura e dificuldades também em encontrar o equilíbrio na relação, no casamento, de forma que não vivamos com responsabilidades e compromissos desproporcionais, enquanto a outra parte pouco faz.  Dificuldades de equilibrar as energias Yin e Yang (masculina e feminina), dificuldade também de mudar esse padrão e baixar um pouco a guarda, mostrar a vulnerabilidade, pedir ajuda. A questão é: Muitas vezes não se tem para QUEM pedir ajuda. Quando somos o apoio de muita gente, ser forte não é opcional. A vida não nos pergunta se queremos mais essa atribuição. E quem olha de fora acha que vivemos muito bem assim. A gente aprende a não contar com as pessoas, a gente aprende a se virar sempre sozinha, aprende a não expor as nossas dores, para não preocuparmos os outros. Não quer dizer que não temos dores ou que amamos a solidão que tais obrigações nos impõe. 

O outro lado da história, que ninguém vê, é justamente esse: quem cuida de quem cuida de todo mundo? Quem aguenta ter uma mulher forte ao lado? E o que uma mulher forte NÃO suporta? 

Nós não ficamos em qualquer relacionamento, só para termos alguém. Nós não temos sequer tempo para gastar muito com isso. Não abaixamos a cabeça facilmente e sustentamos nossas opiniões, nos posicionamos e isso, assusta SIM, a maioria dos homens. Incomoda até mesmo outras mulheres, que ainda não descobriram suas forças. Tenho amigas queridas, mulheres incríveis, que são excelentes mães, filhas, parceiras de vida, que estão sozinhas pois não conseguem relacionamentos saudáveis, onde possam continuar sendo quem são, independentes, bem sucedidas, cuidadoras, porém, onde também possam ser frágeis, vulneráveis, cuidadas. 

Eu, hoje, acabo de voltar do consultório médico, depois de ter feito uma bateria de exames para pesquisa de inflamações recorrentes que venho tendo e a recomendação é de repouso absoluto por pelo menos 3 dias e meu primeiro pensamento foi "Preciso organizar umas coisas para poder parar por 3 dias", coisas que incluem supermercado, farmácia, banco. "Não tenho disponibilidade no momento. Eu não posso parar por agora" foi o que prontamente respondi. 

E quer saber? Hoje, eu não queria ser forte não. Eu queria poder desmoronar. Eu queria poder parar mesmo, fisicamente e mentalmente. Mentalmente então... nem se fala! E não, eu não acho que isso anule minhas lutas, minhas conquistas e tire o meu mérito. Não sou fraca por não dar conta de tudo; sou humana. E tá tudo certo. 

Precisamos tomar cuidado para que de uma qualidade, ser uma mulher "Forte" não se torne um martírio, uma condenação à solidão perpétua. Somos fortes. Não invencíveis ou incansáveis. 

Se permita ser fraca de vez em quando. Quem carrega o mundo nas costas, não consegue abrir as asas. Lembremos disso.

Beijos!

Bruna