Como eu falei no primeiro post, um milhão de pensamentos me invadiram na hora que o médico que conduzia a minha ultrassonografia me disse que não havia mais ESCOLHA se eu tirava ou não o útero. O mioma havia crescido bastante, estava com 7cm e se tornado submucoso. Ou seja, o mioma havia aderido às paredes do útero, incorporado ao útero, então não dava mais para retirar só o mioma e preservar o útero. Útero e mioma eram agora uma coisa só. 

Meu primeiro pensamento, ainda deitada na cama fazendo a ultra foi "Graças a Deus eu já tive as minhas filhas. Se tiver que tirar, fico em paz". Eu realmente não consigo conceber uma versão de mim que não é mãe, que nunca ficou grávida, que não sentiu as transformadoras dores do parto, que não amamentou, que não gerou VIDA. E eu não consigo imaginar como deve ser violento e absurdo o fato de não poder engravidar quando muito se quer. Por isso, meu primeiro pensamento foi de gratidão. Mas, quando saí da consulta me sentei para tomar um suco e pensei "Peraí... E se eu quiser ter mais um filho nessa vida? É uma ação muito drástica, é uma coisa definitiva" e aí eu senti o baque. 

Claro que entre fantasiar e fazer, existe um Universo de distância e por mais que eu já houvesse decidido não ser mãe novamente, por uma série de questões pessoais que incluem minha saúde (tive muitas complicações nas gestações e pós-parto) e minha saúde financeira também, sejamos realistas, uma coisa é não *querer* mas ter a opção de mudar de ideia e outra coisa bem diferente é NÃO PODER. E não ter como voltar atrás. É lógico que o medo bateu. Minhas filhas eram loucas para ter um irmãozinho anos atrás...essa possibilidade acabou, eu teria que contar isso pra elas. Se eventualmente eu arrumasse um relacionamento e meu parceiro fosse louco para ter filhos, acabou também. Se o instinto materno acendesse e me animasse, não ia adiantar. Sabe? E se eu quisesse um dia? Bom...tive que trabalhar essa questão dentro de mim de uma forma bem racional e prática. Me aproximando dos 40 anos, com filhas adolescentes e a correria atual da sociedade para mantermos o psicológico em dia, as contas em dias, a vida pessoal em dia...ter mais um filho não era mesmo uma opção, não se encaixaria no meu atual contexto. Fui dissolvendo as historinhas fantasiosas e românticas que a minha mente fazia questão de criar, confrontando-as com a realidade do aqui e do agora, do dia- a - dia; essa realidade que não me permite perder muito tempo sofrendo pelo que não foi, por tudo que poderia ter sido, por aquilo que não aconteceu e que não aconteceria mais. 

Depois disso, me bateu uma raiva genuína e ancestral. COMO ASSIM EU TINHA UM MIOMA QUE ME IMPOSSIBILITAVA DE DECIDIR SOBRE O MEU PRÓPRIO CORPO? Quem ele pensa que é?! Cadê a médica que me disse para OBSERVAR, que não me alertou que isso tudo poderia acontecer?! Cadê a medicina moderna?! Ninguém podia fazer nada?! Mais que droga de pandemia que atrasou tudo! Enfim...ter alguém para culpar nessas horas nos tira um peso das costas, mas a verdade real mesmo é que eu não tinha ninguém para culpar. A médica de fato nunca me alertou para todas as complicações que um mioma pode dar, mas era responsabilidade MINHA ter feito exames mais regulares, manter um controle mais rígido. Eu priorizei outras coisas e esqueci do mioma. Mea-culpa.

Cheguei em casa, reuni a família e contei a situação. Contei para os amigos também, fui procurar uma segunda (e terceira) opinião, mas eu me considero uma pessoa prática. Sou daquele tipo que fala assim "tá bom, é isso, não tem jeito? então como resolvemos da forma mais rápida?". Anualmente eu faço um ciclo de reposição de B12 e sempre opto por injetável por ser mais rápido. Quando chegava ao pronto-socorro já pedia logo uma Bezentacil kkkk Essa sou eu. E eu já estava sofrendo tanto com os efeitos do mioma, anemia e tudo que já relatei, que a ideia de tirar tudo e me curar logo começou a me dar certo alívio. 

Tive conhecidos que me indicaram tratamentos alternativos, com alimentação, com constelação familiar, com terapia de regressão, com florais e tudo mais, mas só quem está so sofrimento diário é que sabe o que é melhor para si. Não queria mais prolongar e viver com aquilo dentro de mim. Se era isso, então era isso e ponto final. 

Nos meses que antecederam a cirurgia eu busquei uma aceitação, me dar um acolhimento, me dar trégua e paz. Conversei muito com meu útero e do fundo do meu coração, com toda a minha alma, agradeci por tudo de maravilhoso que ele me proporcionou. Ele me deu as duas maiores alegrias e bênçãos da minha vida! Ele aguentou firme quando tive que fazer uma curetagem de emergência depois do meu primeiro parto, ele segurou a segunda gestação mesmo com um caso raro de placenta prévira-oclusiva-total. Ele segurou a onda quando a placenta se descolou. Ele foi bravo. Agora estava na hora de encerrarmos esse ciclo. De pararmos de sofrer. 

Com lágrimas escorrendo feito criança quando toma bronca da mãe, na véspera da cirurgia eu me despedi dele. Nos despedimos com muita GRATIDÃO, com amor puro e com a certeza de que eu faria tudo de novo, igual mil vezes se fosse preciso, mas eu faria tudo de novo para ter as minhas meninas aqui. O que é mais lindo que isso?! Não deu para ter um terceiro filho gerado, mas nada me impede de um dia encontrar meu terceiro filho do coração. Nada termina, tudo se renova. E a vida é isso, uma etera renovação. O útero e as trompas vão, ficam os ovários. E com eles, uma nova vida começa dentro de mim, a minha própria. Porque eu também estou precisando renascer. Eu ando sentindo a maior falta de mim! Eu não vejo a hora de retomar o controle sobre o meu corpo. De me reconhecer outra vez no espelho. De me sentir VIVA! Tem muito, muito tempo que não me sinto assim. 

Estou animada, grata e FELIZ, por estar podendo iniciar essa nova fase,em dar boas-vindas à nova Bruna que nascerá da retirada de um útero que já não podia mais abrigar vida. 

Gratidão corpo! Gratidão a cada célula, cada micróbio, cada órgão e músculo, por tudo que vocês fazem por mim! Vocês são fantásticos e eu prometo que cuidarei bem de todos e nunca mais nos esquecerei, daqui pra frente!

Juramento de dedinho!

Com carinho, Bruna.