Feche os olhos. Responda, rapidamente, qual a primeira lembrança que te vem na cabeça, da sua infância.
A minha, é da minha cachorrinha, Lua, correndo pelo quintal enquanto eu brincava na minha casinha de bonecas. Se eu for um pouco mais a fundo, consigo ver logo ali ao lado nesta minha lembrança, meu pai, minha mãe e irmã fazendo churrasco na área da piscina lá de casa, onde vivi a maior parte da vida.
Se continuarmos, posso sentir o cheiro de pão fresco que saía da - já extinta-Padaria do Serjão, todas as tardes, quando eu parava lá com meu pai, depois que ele me buscava no colégio.
Crescendo um pouco, me lembro ainda, com certa vontade de rir, dos episódios de Arquivo X, que assistíamos todas as quartas na TV, eu e papai, e onde ele filosofava muito sobre a existência de ET´s (e a visitação constante à Terra!).
Ou seja, posso deduzir, que 80% das minhas mais tenras lembranças da infância, contém meu pai. E minha mãe em seguida. E claro, a Lua!

Os tempos eram outros, verdade. Não tínhamos super vídeo games, nem simuladores de realidade (que me soa tão cômico), nem internet disponível 24hrs do dia. Mas, se tivesse, aposto que eu não teria sido uma criança muito viciada no mundo virtual, porque meus pais amavam o mundo REAL e a VIDA.
Estávamos sempre juntos! Cozinhando, fazendo vitaminas de banana com pizza-pão, viajando nas férias e fins de semana, ouvindo Dire Straits no carro (obrigada papai, pela excelente herança musical que você me deixou!)... Estávamos sempre com a casa cheia e carne na brasa! 
Nós, eu e minha irmã (e todos os os agregados que adoravam frequentar a bagunça), estávamos sempre aprontando e levando as devidas broncas por isso. Minha mãe desenvolveu uma metodologia de estudos para passarmos nas provas, que deveria ser patenteada por ela (já te disso isso, mãe), e que eu tento reproduzir com as minhas filhas!

A internet chegou eu tinha lá meus 12/13 anos, e quando chegaram os primeiros jogos super bacanas de computador, meu pai se viciou mais que eu! Jogávamos por horas, todas as noites enquanto tomávamos sorvete, e era um barato.
Depois, lá com 15/16 anos, quando fazíamos rodízio de mães entre as amigas, para nos levarem às festas e baladinhas, a minha mãe ia sempre! E quando não ia, sua presença era solicitada por TODOS os meus amigos! Ela era a conselheira da galera, a cúmplice e a MÃE.

O que eu quero dizer com esta biografia? Que meu pai trabalhou duro a vida inteira pra prover tudo de melhor que ele podia, e mesmo trabalhando às vezes 12 horas por dias, ele NUNCA estava cansado demais para ouvir nossas reclamações e aventuras diárias.
Minha mãe, que trabalhava para manter a casa e nós todos em ordem, estava sempre inventando algo para estarmos JUNTOS.

Hoje, trabalhamos muito, dormimos pouco, comemos mal. Hoje, nos preocupamos em conseguir pagar um excelente colégio, excelentes cursos e viagens e uma demasiada pré - ocupação com o FUTURO dos nossos pequenos. E com isso, acabamos por esquecer, um pouco, o PRESENTE. 
Mas não existe um bom futuro, sem um bom presente. 

Não fazemos por mal, é claro, pelo contrário: É por ama-los demais que nos preocupamos demais. Mas, às vezes não precisamos falar 3 línguas aos 11 anos de idade...mas, precisamos, impreterivelmente, ter BOAS recordações e fabricar as melhores lembranças possíveis ao lado dos nossos pais. Pois elas, as lembranças, serão lenha para nossos corações, em dias frios e um mundo incerto, a única certeza que temos que trazer é que somos AMADOS, e que temos nosso lugar no mundo.
O amor é a melhor bússola que conheço.

Principalmente, dentro de casa. A casa tem que ser muito mais que uma casa, tem que ser um LAR e conter ALMAS, dentro. O lar tem que nos dar vontade de voltar, todos os dias, tem que ser nosso refúgio das tempestades e intempéries mundanas. E nunca um lugar onde somos obrigados a ficar, mas nos sentimos estranhos e desconfortáveis.

Não podemos perder as crianças dentro de casa, esquece-los no quarto, e perder o diálogo para um aparelho qualquer. Precisamos de OLHO - NO OLHO. Mãos com mãos; Abraços apertados. TEMPO para não se fazer nada... uma hora que seja, por dia, só para contarmos os "causos" cotidianos, ou para os acompanharmos em alguma atividade. 
Eles precisam saber que nós estamos AQUI. De verdade. AQUI para o que der e vier. AQUI, a qualquer hora. Para, o dia que não estivermos mais aqui, fisicamente, ainda assim, estamos PRESENTES. 

Não temos grana para leva-los ao shopping e passarmos o dia, tudo bem, mas tenhamos TEMPO para bater um bolo de chocolate e deixar que se sugem. Tenhamos tempo para uma volta de bicicleta no bairro. Tenhamos TEMPO para conhecê-los, saber quem estão se tornando. Para OBSERVÁ-LOS.

TEMPO, meus caros, vale mais que qualquer ação na bolsa. Vale mais que qualquer brinquedo caro. TEMPO não tem preço. Mas, tem um VALOR inestimável em tempos modernos.

Tenhamos tempo para nossos filhos e desta forma, eles não terão tempo para as coisas ruins deste mundo.

Para quem tem amor, companhia, infância com afeto, baleia azul é só mais um personagem de conto de fadas, assim como unicórnios rosas, ursinhos amarelos...

Bruna Stamato