Era lindo, mas não era “aquilo”.
Era cômodo,
confortável, mas...não era “aquilo”!
Era amigo, era companhia, mas não era...”aquilo”.
Era sereno, nada de euforia. Não...não era “AQUILO”.
Era maduro, era calmo, mas...você sabe.
Era tudo que eu tinha pedido, menos “aquilo”. Era café com
leite morno; Era poesia de Cora; Era bossa de domingo. De se ver era até
bonito, mas não era “aquilo”.
Não era um blues rasgado com rum; Não era Veríssimo nem
Camões. Não tinha aquele ardor. Não era ciumento, nem passional. Não era tesão,
nem sexo matinal. Não era “aquilo”.
Era tudo que alguém poderia ter sonhado! Era encontro sem
ansiedade, era beijo contido, era olhar sem maldade.
Era tudo que a minha mãe tinha rezado! Eram planos
perfeitos. Era lua cheia com céu nublado;
Era fogueira com fogo apagado; Era
chuva em feriado.
Era tudo que deveria ser; Era tudo que eu deveria querer.
Mas não era “aquilo”, que eu não sabia dizer.
Não era abraço apertado; Não era jura de amor na madrugada;
Não era nada do que eu preciso ser.
Eu preciso “daquilo”; Justamente da única parte que eu não
consigo descrever!
Eu preciso sentir meu coração bater. E é o “AQUILO” que faz
o sangue correr, que faz a voz falhar, que faz a razão desaparecer, e a cabeça
dar um nó.
Sem “aquilo” é um “isso” e só.
E “Isso” até preenche lugar vazio na cama, mas não acaba com
solidão, “Isso” dá segurança, “Isso” é legal, mas “Isso” não ocupada um
coração. “Isso” não prende a atenção. “Isso” não vira “aquilo”.
“Isso” é fácil de encontrar, mas “aquilo”... “Aquilo” vicia!
“Aquilo” te faz perder o chão. Te faz perder a fome de
barriga vazia; Te faz pedir demissão. “Aquilo” te revira por inteiro, e te faz
desejar nunca seguir em outra direção. “Aquilo” é montanha russa sem cinto, é
escada sem corrimão.
É o que muita gente vive tentando evitar e outros, imploram
pra ter, em compensação.
“Aquilo” te impulsiona sem querer, te faz prender a
respiração.
É...era realmente tudo de bom. Era de causar inveja...em
quem nunca provou “aquilo”.
Em quem nunca se sentiu tonto, mesmo estando
parado, quem nunca se sentiu voando, mesmo com os pés no chão...quem nunca teve
sua vida inteira revirada por uma paixão.
“ Isso” faz companhia para um jantar, mas não alegra a mesa.
“Isso” se diverte no cinema, mas não faz perder a hora pro filme... “Isso”
divide a mesa, mas não dá tesão de dividir a alma.
As pessoas não entendem como relacionamentos tão perfeitos
podem acabar e como relações tão conturbadas conseguem viver anos. É que o
“Isso” às vezes, não dá liga, tem prazo de validade curto, porque não atinge o
cerne. E o “aquilo”, que pode parecer uma loucura, é uma faísca intrínseca e
perpétua bem lá no fundo do âmago. A gente desiste. A gente joga água fria, a
gente finge, segue em frente e os anos passam, mas o “aquilo” não precisa de
justificativa justamente porque é injustificável.
Como somos tolos! E difíceis de agradar...e não sabemos o
que queremos.
É que “Isso” até compra apartamento e faz poupança junto, mas
nem sempre “Isso” nos dá vontade de ficar, nos dá um lar, nos faz sonhar.
Permitam-me explicar: O “Aquilo” nem sempre é ruim, às vezes é só o tempero que
faltava em “Isso”.
Como podemos insistir num relacionamento tão cheio de altos
e baixos e como podemos desistir de um relacionamento tão estável? Vocês eram
tão incríveis juntos!
É que mar sem onda é lagoa.
E pra quem nasceu surfista, lagoa nunca vai satisfazer.
Por
mais pacífico que o oceano esteja, quem gosta de remar não teme a maré. A gente
surfa até em maré de azar. E mar calmo demais, é legal por um tempo mas...não
dá surf.
Lagoa não tem...”aquilo”, sabe como é?
Bruna Stamato
0 Comentários