Eu sempre falo de amor, e da falta dele nos meus textos, sempre enalteço o lado bom porque realmente acredito que o lado bom do amor compensa possíveis brigas corriqueiras e as diferenças dos casais, porém, como escritora, acredito que seja a minha função, compartilhar não só as coisas maravilhosas da vida, mas também tentar alertar á quem sofre, á quem muitas vezes nem se dá conta do seu enorme potencial e se prende a relações extremamente desrespeitosas e sofridas. Pois EU sei como é angustiante e dilacerador sofrer qualquer tipo de violência de quem tanto se ama. E aqui eu não vou falar de violência física, eu vou falar de um tipo de violência ás vezes mais devastador do que qualquer outro, um tipo de violência silenciosa na maioria das vezes, uma violência disfarçada de amor e por tanto, perigosíssima.

Vou começar narrando uma pequena historinha, se você se identificar, prossiga no texto!
Era uma vez uma garota alegre, cheia de planos e projetos pro futuro, cheia de amigos, muito simpática e solidária. Ela era muito sonhadora, desse tipo que acredita em romances dos livros, desse tipo que se apaixona de verdade. Um belo dia ela conhece um rapaz, uma cara boa pinta, de riso fácil, que se mostra logo encantado por ela, que ri das besteiras que ela fala, que sorri ao vê-la chegar, que faz amizade com todos seus amigos e que logo de cara declara sua paixão!

Nossa mocinha por um segundo até acha um pouco precoce tão declaração mas...afinal, a paixão não é assim mesmo? Viva! Ela finalmente encontrou o amor à primeira vista!
Mas...algo nela a diz para ir com calma. Mas calma pra quê se o rapaz é sua cara – metade?! Se ele completa suas frases...topa seus programas, faz questão de almoçar com a sua família inteira no domingo e faz questão de logo assumi-la pro mundo?! Um rapaz desses, sério, que quer compromisso, é raro de encontrar!
Nossa mocinha então se livra dos receios e se entrega a paixão. Se entrega até o dia em que mal conseguirá se olhar no espelho; Até o dia que pensará em acabar com a própria vida se o “príncipe” a deixar.
Nossa mocinha sou eu; É você. A sua irmã...sua melhor amiga. Nossa mocinha não encontrou o príncipe! Encontrou seu algoz.

Aquele cara que havia feito amizade com todos os seus amigos, em pouco tempo começa, devagar e suavemente, a falar que eles não prestam...que a “Joaninha” estava olhando esquisito pra ele e como ele é um cara muito fiel, não quer que você se iluda com esse tipo de “amizade falsa”...o seu vizinho e amigo desde a infância têm uma paixão oculta por você e o encara de forma ameaçadora...mas afinal, ele não é mais importante pra você do que o amor de vocês, né???? Sua melhor amiga e confidente é na verdade uma baita invejosa, que ele ouviu falando mal de você pelas costas, mas não fique triste, a vida é assim mesmo, mas agora tá tudo bem, você tem a ele! E essa é a real intensão dele: Fazer com que você fique cada vez mais DEPENDENTE, e ele disfarça essa dependência com cumplicidade, você acredita que ele é companheiro, parceiraço, afinal, ele está sempre disposto a “ajudar”, mas essa “ajuda” é sempre pra te deixar pra baixo, quanto mais triste você estiver, mais feliz ele fica, porque assim você vai perdendo as suas forças e ele te dominando cada vez mais. Aos poucos você vai perdendo o interesse pelas atividades, porque já não fala mais com os amigos por tanto não sai, você começa a se achar feia e se descuida, e de repente, o mundo se tornou um lugar sem graça. Porque você não tem um parceiro que te apoie: Você tem ao lado alguém torcendo contra todos os teus sonhos.

Os programas e festas? Você naturalmente trocou todos por causa do romance, normal, todo mundo faz isso. Mas sabe aquele aniversário da sua prima numa balada super top? Ah, amor, ele está muito exausto pra ir, tá se sentindo um pouco indisposto, ia adorar se você ficasse cuidando dele só um pouquinho...
Aliás, ele adora te ver arrumada e produzida MAAAAS, ele tá começando a achar que a sua saia tá um pouco curta e esse teu jeans muito justo, você já é bonita e chama atenção naturalmente, não precisa disso tudo...ele adora te ver mais despojada, você fica linda de tênis e chinelinho! Suas redes sociais?? PRA QUE você precisa disso, amor?! Quanta futilidade! Ele está te preservando, então, que tal, se criássemos uma conta conjunta no Facebook?! Parece ótimo!! Mas ele continua com uma conta espiã, que você não saberá da existência durante muito tempo.

Em algum tempo a sutileza vai acabando, conforme ele vai pegando segurança de que você está mesmo apaixonada por ele e o abuso passa a ser mais efetivo. Ele começa a não controlar mais o ciúmes absurdo, a desconfiança, e começa a soar ameaçador pra você; Mas só pra você. Na rua ele continua sendo o cara gente boa! E passa a ser o cara gente boa que por AMOR á você, está aguentando esse seu comportamento dualista e a sua DEPRESSÃO. Ele, que até então ficava em casa com você pra garantir que você não ia sair, começa a sair sozinho...a dizer que vai no supermercado do nada as 10 da noite e demora duas horas pra voltar e quando você pergunta ele enche os olhos de lágrimas, como você é um monstro, por estar desconfiando de uma pessoa que sempre foi tão legal com você! Você então fica com pena, pede desculpas e concorda, é mesmo, você é uma idiota por duvidar de um homem desses.
Logo as pessoas de fora começam a te alertar – aquelas com quem você ainda não desfez a amizade – E você até para e pensa se tem fundamento, mas ele logo te enche de mimos e te faz, outra vez, perceber o quanto ingrata você é.

O abusador te faz achar que você não pode mais viver sem ele. E chega um certo ponto, que você também começa a acreditar nisso. Ele tem sempre uma desculpa para tudo. Ele faz você desacreditar do que VOCÊ VIU!
Ele deturpa a realidade, muda tuas palavras de ordem, cria situações conflitante e então, faz você “PERCEBER” que realmente estava errada. Ou, ele com certeza vai te deixar com uma enorme dúvida.
Você começa a duvidar de si mesma. Você não tem certeza de mais nada e quanto mais você indaga e se sente perdida, mais domínio sobre você ele exerce. Ele te testa...ele chora, ele é sempre a vítima injustiçada. Ele é sempre o coitado e você – a LOUCA. Aliás, você está mesmo ficando louca...tua família comenta que nunca te viu com um comportamento desses e ele então te diz “Finalmente amor você abriu os olhos e viu que o motivo das nossas brigas são a sua família! Eles não gostam de mim, não sei porque...Vamos começar de novo? Vamos ser felizes sem a interferência deles!” E você? Você vai.
Você enfrenta o mundo por ele, mesmo a essa altura, já sabendo que ele não é o príncipe que você imaginava, mesmo tendo provas irrefutáveis da sua falta de caráter, você dá mais uma chance, sabe por quê? Porque o seu cérebro virou prisioneiro e ele...virou seu carcereiro. Ele até te faz um carinho vez ou outra e você por alguns segundos pensa que ele está mudando. Mas aprenda uma coisa mocinha: As pessoas NÃO MUDAM. Apenas melhoramos ou acentuamos características próprias. Mas a essência é imutável. SEU AMOR NÃO É CAPAZ DE TRANSFORMÁ-LO NO HOMEM QUE VOCÊ QUERIA QUE ELE FOSSE. Ponto!

Ponto!!! E bote um ponto final logo nisso, por favor. Você já perdeu um bom tempo nessa prisão, escrava de um sentimento camuflado, que na verdade não existe, porque você amava AQUELE CARA, aquele de sorriso fácil, que ria das tuas ideias, que era amigo dos teus amigos, que te acompanhava. Só que aquele cara não existe! Ele criou um personagem, assim como ele cria um personagem para cada pessoa diferente que ele conhece. Observe! Observe o jeito dele de falar com os atendentes de um restaurante, o jeito dele ao se portar numa reunião ou evento social...a forma como ele fala com os pais e os irmãos, o jeito como ele fala com você AGORA, o jeito como ele trata tua mãe...Para cada situação ele tem uma saída. Para cada momento da vida um personagem pronto, decorado. Se ele fez uma merda muito grande e sentiu que pode perder a presa, que é você, então ele vai mudar radicalmente! Vai mudar até o jeito de se vestir, vai fazer um tipo, dizer que amadureceu, mudar o tom da voz e até alguns hábitos rotineiros, mas não se engane, ele sabe que te engana fácil, que te leva sempre na conversa e que você SEMPRE O PERDOA!

Abre o olho. Porque de tanto que perdoamos nos tornamos cúmplices. Tem certeza que você quer ser conivente com um cara sem escrúpulos, sem caráter, e com sérios desvios mentais?
E assim que você consegue se livrar dele, ele arruma logo outra na sequência! E começa tudo de novo! Porque na verdade o dependente, o LOUCO é ele! Que precisa mostrar pra sociedade que é um cara normal, um cara bacana, ele tem a NECESSIDADE de se sentir amado! Mas que nunca saberá o que é AMOR de verdade, pois nasceu sem esta capacidade, esse tipo de abusador tem um grau de psicopatia, por tanto, eles não sentem as coisas da mesma maneira que nós sentimos. É justamente isso que nos causa tanta perplexidade diante de atitudes tão absurdas e abusivas.
Mas calma. Respira. Nem tudo está perdido. Você não é a mulher mais ingênua que existe no planeta! Você só se deixou levar por uma ilusão. Você seguiu seu coração. Acontece. Acontece aos montes por aí e ás vezes essas histórias chegam às raias da loucura. Então não se culpe por ter gasto seu tempo com um homem desse tipo, agradeça por ter aberto os olhos e se livrado enquanto ainda é tempo. Porque a gente sempre tem tempo pra mudar, pra criar, pra se reinventar enquanto nosso coração ainda está batendo!

Esse tipo de abuso tem nome: Chama-se Gaslighting e vem do filme “Gaslight” ( À meia luz), de 1994, que conta a história de uma mocinha, igual a da nossa narrativa, que casa-se após um breve romance com um abusador, que a faz crer que ela está doente, ela começa a “perder” coisas pela casa, “esquecer” outras tantas coisas por aí, até que um detetive começa a se interessar por ela e investigar o querido marido e a trama se desenrola.

Gaslighting não é brincadeira. É um abuso e como todo abuso pode gerar consequências graves. Dentre as mais comuns, vem a ausência completa de auto – estima, a perda da capacidade de discernimento, uma infelicidade e um descontentamento enorme consigo mesma e com a sua imagem, perda das amizades e com isso a diminuição dos ciclos sociais...posteriormente causa uma revolta muito grande, ódio e rejeição por si mesma, coisa que nos leva á uma depressão grave, ao isolamento total, tendo que fazer uso de medicamentos controlados e tudo mais em alguns casos. 

Felizmente a maioria de nós se recupera e aprende a ser complacente consigo mesma em primeiro lugar, a se OUVIR e se priorizar.
Você conhece alguém que está passando por isso? Encaminhe esse texto! Vamos ajudar á quem passa por isso á não sofrer sozinha e calada, pois é realmente um sofrimento imenso, porém reversível! Existe vida BOA pós cárcere!

#EuDigoNãoAoGaslighting


Bruna Stamato