No momento em que nasce um bebê, uma mãe também nasce. A mulher já existia, a filha existia, a namorada ou esposa certamente existe, mas a MÃE nunca existiu. Uma mãe é algo totalmente novo. Mães também são recém – nascidas. Recém nascidas sem nenhum respaldo. Sem os cuidados e mimos que o bebê recebe. Muitas vezes sem a atenção e carinho merecidos e precisos.

Quando nasce uma mãe, nasce um mundo! Um mundo de possibilidades, um mundo de alegrias é verdade, mas também um mundo de descobertas, de inseguranças, uma terra virgem, nunca antes habitada. Não sabemos o que encontraremos por lá! Se o território será hostil, se vamos desempenhar bravamente o papel que nos foi designado e se daremos conta de manter tudo em ordem. Só sabemos que na Mamãelandia há milhares de olhos julgadores e dedos inquisidores e 1 único habitante, mais importante que todas as 2 bilhões de pessoas do planeta, e que, no momento, ele depende exclusivamente de nós. 

Isso não é motivo para se apavorar? Então eu não sei mais o que é. Eu só sei que hoje em dia eu desconfio de quem chega pra mim no dia seguinte ao parto e fala “Imagina Bru! Tô ótima! Vida normal, tudo certo!” e 2 dias depois está lavando as roupas, fazendo comida e indo no mercado como se nada tivesse acontecido. Eu não sei se isso acontece com frequência, mas sei que comigo, pelo menos, passou um furação chamado Julie na minha vida.
Eu fiquei uma bagunça. Eu tinha medo de não entender o choro do meu bebê, eu tinha medo dela não gostar de mim...porque é triste, mas acontece. Eu tinha medo de ser uma mãe liberal e ela crescer sem limites, e de ser uma mãe muito chata e ela crescer infeliz. Eu não sabia se pecava por falta ou excesso. Se o banho tava muito frio ou muito quente, se era muita ou pouca comida e fui assim, de extremo a extremo, durante um bom tempo.

Eu li vários livros e reportagens e desenvolvi algumas teorias bem bacanas de como evitar birras, noites mal dormidas e rejeição à comida. Mas não tinha a menor ideia do que era lidar com dois seres humanos recém chegados ao planeta: Eu, a mãe, e ela, a filha. Parti então pro Princípio dos Alienígenas: O que eu faria se encontrasse um Etzinho extremamente lindo e carismático na rua? Eu o levaria pra casa e o amaria com todo meu coração, eu o ensinaria a falar, a usar o banheiro e a se expressar corretamente. E não é isso que somos quando chegamos á este planetóide? Não somos extraterrenos, somos intrauterinos, mas ainda sim, alienígena, sob meu ponto de vista.

Conforme a Julie ia crescendo, eu ia rindo muito desta teoria boba que criei, mas tentava sempre me lembrar dela nos momentos tensos e de birras absolutamente infundadas. Nos livros não dizem que toda a sua argumentação e a sua pós graduação em recursos humanos, não vai adiantar P* nenhuma diante de um ataque incontrolável de sono.
Que a sua paciência de anos de Yoga, vai se esvair em 15 minutos de incansáveis e altos decibéis repetindo “Eu quero agora, eu quero agora, eu quero agora”. 

Não nos dizem que levamos um tempo para nos acostumarmos ao recém chegado e ele, com a gente. Quando eu percebi isso, me caiu a ficha: Eu era, sem sombra de dúvidas, a pior mãe do mundo. Eu não conseguia impor uma rotina de sono, não conseguíamos dormir e acordar todos os dias no mesmo horário. Não conseguia ler historinha todas as noites, pois na maioria delas eu estava cansada por demais. Eu não conseguia fazer comida fresca todo dia, nem lavar todas as roupinhas a mão! Eu não conseguia sentar por horas a fio no chão, para brincar. Eu estava muito preocupada com o sustento dela, se ela não falasse inglês fluente aos 9 anos seria um problema sério...eu estava angustiada com a festança de 1 ano – que eu NÃO consegui dar!

Então eu voltei a trabalhar fora. E com aquela estaca de A Pior Mãe do Mundo, me cravada bem a fundo no peito. 

Então a coisa piorou, pois quando eu estava em casa andava exausta e sem grana pra nada, estava então, negligenciando uma vida financeiramente melhor ao ser humano que eu mais amava no mundo. E quanto mais amor se tem, maior a sensação de culpa. Comecei a trabalhar e aí a cobrança pessoal mudou, agora eu não tinha tempo, que era o que eu tinha antes, agora eu tinha dinheiro, mas aí, o que é o dinheiro, enfim? “Crianças não querem dinheiro, querem tempo” as pessoas me diziam. E eu achei que ia surtar de verdade nesta época. Agora eu estava correndo atrás de condições melhores de vida, e terceirizando a maternidade. Precisava de relatórios diários das pessoas que cuidavam da minha filha, me dizendo detalhadamente, o que ela tinha feito, comido, ou não comido. E meu mundo desabou quando eu cheguei tarde em casa um dia e estendi os braços pra ela e disse “Vem com a mamãe!” e ela, cruzou seus pequeninos bracinhos e disse um alto e sonoro “NÃO!” e correu pro colo da avó. Ela tinha uns 2 aninhos e ali ela bateu o martelo de que eu estava certa, e eu era A PIOR MÃE DO MUNDO. Pensei “Cara, eu não quero ser um fardo pra ela!” e por breves momentos pensei em ir embora e deixá-la livre. Mas, meu coração não deixou. Quem muito ama se torna um pouco egoísta.

Eu esqueço até hoje, de mandar escovar os dentes após cada refeição, eu já perdi o horário de uma dose de antibiótico, eu já deixei comer biscoito com toddynho porque estava muito cansada para cozinhar. Mas, eu já virei noite só pra vê-la dormir. Eu rezo muito mais por ela do que por mim mesma. Eu já saí pra comprar 1 sapato pra mim e voltei com 3 pra ela e sem o meu. Eu já me endividei com presente de Natal. Eu já fiz loucuras pra dar conta de todo material escolar... Eu acordo mais cedo pra deixar comida pronta. Eu faço questão absoluta de buscá-la no colégio. E esse ano, ela completa 10 anos. E hoje, 10 anos depois, eu sei que estas são formas, aliás, a verdadeira forma de dizer “Eu te amo” para um ser humano.

Nós tivemos nosso tempo para nos adaptarmos uma com a outra, para acertamos o compasso e organizarmos a vida. E eu continuo não dando conta de estudar matemática, porque sou péssima, de jogar no PC porque não levo muito jeito...massss, eu estou sempre com ela, eu estou ensinando ela a escrever, com o português correto, uma boa redação. Eu a deixo escolher livros sobre os assuntos que quiser. Eu ensinei ela a fazer bolo de chocolate! E a responder à altura aquele garoto chato da escola. 

Eu hoje explico o porque é bom não dormir tão tarde, e eu aceito os ataques de raiva, se eles forem legítimos, se tiverem embasamento. Acho fundamental poder ser quem se é e expressar-se. E eu a deixo escolher se quer ballet ou capoeira e ainda hoje a deixo dormir na minha cama enquanto vê Tv (me julguem!)...e deixarei pra sempre e sempre, enquanto Deus me permitir. 

Ainda acho que deveria pegar mais firme com horários, ter mais regras em casa, faze-la arrumar o quarto todos os dias, lavar louça e recolher as roupas do varal (como sempre me dizem para fazer), mas imponho limites de uma outra forma, na base da conversa. Acho um barato vê-la argumentar e tentar me convencer. Aqui em casa temos horário para usar celular/tablet/computador...roupa suja no cesto e roupa limpa no armário...e não me acho mais a pior mãe do mundo. Ela me convenceu, com sorrisos grandiosos e abraços apertados, com olhinhos cintilantes e cartinhas ainda escritas errado, que eu sou a MELHOR MÃE DO MUNDO!

É claro que eu não sou a melhor mãe do mundo, mas eu me empoderei na marra, e dentro do ser humano que eu sou,  eu sou a melhor mãe que eu poderia ter me tornado. Eu sou hoje a melhor versão de mim, porque ela, aliás, elas, existem! Porque hoje tenho a minha caçulinha, que foi como uma prova dos nove, sabe?! Pra saber se eu era mesmo ou não a pior mãe do mundo!!

E mesmo trabalhando 8 horas por dia, quando eu as vejo brincando e felizes, meu coração me dá uma trégua...hoje eu não quero saber de títulos. Só quero saber de ser feliz!

Aposto que cada mãe que está lendo esse texto, tem seus métodos e fórmulas para criar seus filhos, é a “melhor” e a “pior” mãe em uma só. Porque essa é a nossa função! Quem nunca foi chamada de "CHATA" no auge dos 4 anos de idade, não está desempenhando bem o seu papel *risos*
 
Mas também aposto que tem o MAIOR amor do mundo! E no fim das contas, não é a quantidade de chocolate ingerida, não é a quantidade de livrinhos lidos, não é quantidade de "nãos" ditos num dia,  não é a hora em que se acorda, que faz um ser humano de bem, é o AMOR recebido.

Amor é a única teoria que sempre sai melhor na prática.

Com amor, 

Bruna Stamato