Para ver a ilha, é preciso sair da ilha. 

É normal depois que saímos de um relacionamento, parar para revermos a história e analisarmos os fatos. E é normal também que somente nesse momento, depois de sairmos e conseguirmos nos desvencilhar emocionalmente, que nos demos conta de que ESTÁVAMOS EM UMA RELAÇÃO TÓXICA E ABUSIVA.

Quando essa ficha cai, junto com ela cai também 1 tonelada de culpa monstruosa nos nossos ombros. E mais alguns quilos de vergonha. Nos sentimos profundamente culpadas por não termos enxergado antes, por termos permitido que a pessoa fizesse tudo o que fez com a gente; por não termos dado ouvido a quem nos alertava. E vergonha por termos brigado com pessoas próximas que tentavam nos abrir os olhos. 

É um sentimento comum à vítimas de relacionamentos tóxicos, mas saber disso não diminui o que sentimos. Na sequência da culpa e da vergonha vem a raiva, a revolta. Quanto mais nos distanciamos do parceiro (a) e processamos tudo e desenvolvemos um maior entendimento da seriedade do que vivemos, dos absurdos que vivemos, do tempo que perdemos, maior vai ficando essa raiva. E não é uma raiva só do outro, pela dor que o outro nos causou. É uma raiva de nós mesmas. Um desprezo. E esse desprezo vai virando um abandono, uma negligência, como uma espécie de autopunição. 

Nos largamos. Nos abandonamos. Entramos em uma bad das brabas. Quando olhamos no espelho e quando olhamos para dentro, não nos reconhecemos. E então começa a bater uma saudade. Uma saudade de quem costumávamos ser ANTES de termos conhecido o agora ex parceiro. Uma saudade dos planos e projetos que tínhamos. Da alegria, dos amigos, de todo mundo que se afastou da gente pelo caminho. Porque relacionamentos abusivos nos drenam, sugam toda a nossa alegria, o nosso tesão pela vida, a nossa autoestima. Eles nos arrastam pro fundo do lodo existencial. Saímos completamente exauridas, sem forças, sem perspectivas e sem conseguir vislumbrar boas possibilidades de um futuro feliz e saudável. Como se as nossas almas estivessem doentes.

E estão.

É preciso que você, que está saindo de uma relação dessa, saiba: VOCÊ ESTÁ DOENTE. Você foi a hospedeira de um parasita violento durante um bom tempo. Você foi exposta a uma toxidade alta, em um ataque que talvez tenha te deixado cicatrizes físicas, mas que com certeza, as piores feridas estão na alma e ninguém pode ver. Só você. Você teve a sua autoestima aniquilada a sangue frio. Teve seus sonhos e projetos anulados; teve a sua vida mudada de direção, sem que você pudesse sequer se dar conta disso.

Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: Se você está lendo esse texto é porque o seu coração não desistiu, ele continua batendo. E enquanto ele estiver batendo, minha querida, você é capaz de realizar TUDO O QUE QUISER. De sonhar novos sonhos ou de colocar os antigos em prática. Você é capaz de se curar. Você é capaz de se reinventar e renascer. O que você precisa é se perdoar e se dar TEMPO.

Encare como uma reabilitação. É um dia de cada vez e um pouquinho por dia. Não espere ter vontade de voltar a viver da noite para o dia, de se sentir pronta para se apaixonar de novo, de mandar o baile seguir, de colocar um cropped e reagir imediatamente. VOCÊ NÃO PRECISA. Você precisa é de paciência e compaixão consigo. Combinado?

Se olhe no espelho e diga "Eu me celebro! Eu me perdoo, eu me respeito, eu me assumo e eu me amo" e faça isso todos os dias. Vá aos poucos recuperando a sua admiração por você, que passou por tanta coisa mas mantém o coração bom, a dignidade e o respeito por si. 

A chave para esquecer alguém e uma situação ruim é lembrar-se de si mesma. 

E saiba que, nós mulheres, sempre conseguimos nos tornar versões ainda mais espetaculares de nós. E você não está sozinha.

Com amor,

Bru