Eu estou há tanto tempo na estrada, que já não sei mais onde é a minha casa. Às vezes me sinto como uma criança de 8 anos que se perdeu em um lugar desconhecido e cheio e não sabe o caminho de volta. Uma vontade absurda de correr para a casa, de bater no portão e ver meu pai vindo abrir. 

De dar um abração nele, naquele tipo único de abraço que nos reinicia, que nos protege de qualquer perigo, que nos é LAR. Queria entrar correndo no meu quarto, com as paredes amarelas e a cortina que a mamãe mandou fazer e me jogar na cama e ficar quietinha. Sabendo que meus pais estão ali na cozinha...que tá tudo na mais perfeita ordem, tudo em seu devido lugar. 

Acho que é isso...eu sinto falta dessa sensação de segurança perdida há tanto tempo. Falta do tempo que eu não precisava lutar ferozmente com a mundo e que eu não sentia que o mundo queria me engolir a qualquer custo. Falta de me sentir acolhida e de saber que eu não estou sozinha. 

Por que eu deixei a minha casa, a casa dos meus pais, tão cedo? Eu fui em busca de quê? Eu já nem lembro, porque seja lá o que tenha sido, eu não achei. Eu sigo me sentindo com 17 anos e uma mochila nas costas, entrando em um ônibus rumo ao desconhecido e sempre prestes a ir embora. Acontece, que já se passaram mais de 20 anos e eu quero descer do ônibus no meu ponto final e finalmente largar a mochila. 

Eu fui embora porque queria ganhar o mundo. Mas o mundo está sempre me vencendo...

Eu desenvolvi asas fortes ao longo dos anos, é verdade. Mas asas fortes também cansam e eu estou cansada. Eu não quero mais me mudar, eu não quero mais rodar o mundo, eu quero fazer o caminho inverso; eu quero ir pra casa. E agora já não é mais possível...papai nunca mais irá abrir o portão pra mim. E a construção também não existe mais... o meu barquinho segue à deriva. Há 9 anos o meu porto-seguro se foi dessa vida e desde então, tudo tem sido uma vã tentativa...de me restabelecer.

Eu preciso achar esse lugar. Onde eu vou poder, enfim, me sentir em paz e protegida de novo. Onde vou poder furar as paredes e pregar meus quadros, sabendo que não os tirarei tão cedo. Onde eu vou poder cultivar uma pequena horta e começar a me preparar para envelhecer e receber os netos.

Os apartamentos e casas que morei vida afora nunca me trouxeram essa sensação. Meus relacionamentos até agora também nunca me fizeram sentir-me em casa, pelo contrário, em alguns eu me senti uma verdadeira forasteira e intrusa. Às vezes eu acho que esse lugar nem existe. 

Talvez a minha casa seja um lugar seguro e tranquilo dentro de mim...quem sabe? Talvez seja no peito de um outro alguém. Talvez, seja bem longe de onde me encontro hoje. Eu só sei que já caminhei tanto que agora a minha alma só quer criar raiz. Quer acumular coisas, louças e prataria. Porque quando nos mudamos muito aprendemos a ter o mínimo possível, a não levarmos mais do que sabemos que podemos carregar e que é fácil de arrumar rapidamente. Eu quero comprar um chaveiro maneiro e escolher o piso. Eu quero me reconhecer nesse lugar. Eu quero gostar da vizinhança. Eu quero que a minha alma se deite em paz para dormir. Sem sobressaltos, sem medo, sem acordar às 4h da manhã pensando para onde precisaremos ir. 

Eu quero lençóis duráveis. Cortinas sob medida. E um amor que seja a minha companhia na varanda até o fim da vida. 


Bruna