A memética é o braço da genética que estuda como o comportamento online e a vida digital influenciam o comportamento das sociedades e o chamado DNA Social, que é composto pelos nossos hábitos de consumo, desejos, metas, gostos pessoais e comportamentos individuais que acabam afetando o coletivo. 
Se 1 década atrás uma tendência era ditada pelas revistas, pelas novelas e por eventos que aconteciam no mundo real, hoje, as tendências são criadas primeiramente no ambiente virtual para depois migrarem para o real e com uma velocidade impressionante. Do mesmo jeito que chegam, rápidas e virais, se vão num piscar de olhos de um dia para o outro. A última década foi marcada pela ascensão de blogueiras de moda e maquiagem, que postavam tutoriais no Youtube e Facebook e em seus blogs pessoais. Aqui no Brasil temos grandes exemplos como a Camila Coutinho, a Bruna Tavares e a Camila Coelho e a termos globais, uma das primeiras referências foi a italiana Chiara Ferragni. Porém, a internet é altamente mutante e os blogs expandiram para outras plataformas, os canais viraram empresas, as blogueiras viraram empresárias, o nome virou marca pessoal, chegou o Instagram, o TikTok, o Pinterest e esse conteúdo precisou se adaptar às diferentes redes sociais. 

Porém, se o conteúdo precisou se adaptar em formato audiovisual, algumas bloggers no entanto (que também não são mais blogueiras e sim *Influencers*) se mantém na mesma bolha de quando começaram. Acontece, que a geração que era infantil quando elas começaram, estão adolescentes e young adults (para usar um termo que está na moda) hoje e já não consomem mais um conteúdo puramente vaidoso, um tanto fútil e sem uma CONSCIÊNCIA por trás do nome. E nós, que consumíamos tal conteúdo e que estamos vivenciando essa rápida evolução e- ebulição - das redes, estamos saturados do "look do dia". 

A nova era da influência não precisa seguir os padrões estéticos impostos pela sociedade da década passada, hoje pelo contrário, quanto mais disruptivo, melhor. Mas, essa nova era da influência digital precisa ser engajada, estar atenta aos assuntos mundiais, está inserida em uma comunidade, ter consciência, responsabilidade social e acima de tudo: UMA ALMA. 
A nova era da influência pede por POSICIONAMENTO, comunicação clara e voz. 

A memética ditou até mesmo a escolha do presidente de um país, Jair Bolsonaro foi o maior produto já criado exclusivamente pelas redes sociais e o ambiente virtual. E o comportamento da massa, em diversas plataformas e principalmente no Twitter e nos grupos de whatsapp onde o bolsonarismo fez a cama, influenciou a decisão eleitoral de um nação inteira. Não subestimem o poder das redes sociais e das suas crias. 
Outro fenômeno da memética é a Juliete, vencedora do Big Brother Brasil. Foi nas redes que ela foi ganhando força, nas redes que as pessoas começaram a se mobilizar para fazer mutirão de votação, foi o emoji de cacto que ajudou a criar a COMUNIDADE que se transformou o perfil da Juliete e o termo usado para identificar quem é fã da moça. 

A memética cria mitos reais e derruba personalidades influentes com a mesma potência. Sabe quando você nem está com fome e entra no seu perfil e começa a rolar a tela e vê uma foto de um prato de comida, de um doce, e daí você é inundado por gula, por vontade de comer o tal doce? É o poder do mundo virtual influenciando no seu comportamento REAL, na sua FISIOLOGIA. E quando o tal doce é da doceria XY-Z e você começa a ver muita gente postando sobre essa doceria, sobre esse doce, seus amigos, os artistas que você segue e de repente você é arrebatado por um desejo incontrolável de também fazer parte desse grupo, de estar dentro desse assunto do momento, de poder debater e ter assunto e aí você vai até a tal doceria já sugestionado de que comerá o melhor doce da vida e nem sequer cogitará discordar, pois se discordar, você está excluído do rebanho. Isso é memética. 

E "looks do dia" não engajam mais o algoritmo. A memética necessita de conteúdo para se alimentar e difundir. E não é só ela, nós também. Digo por mim: deixei de seguir várias blogueiras por não aguentar mais a superficialidade delas, o conteúdo fraco, a alienação absoluta e a luta para criarem uma blogsfera fora da Terra e inatingível que ao invés de INFLUENCIAR, para o bem e para o positivo, ao invés de inspirar e motivar, faz o efeito reverso, mostra corpos artificiais, lifestyte impossível para 99% da população, gerando uma comparação e no meu caso, um enjoo mesmo. É assim que me sinto em reação a algumas super blogueiras que eu seguia (no passado): enjoada. Enjoada com a falta total de empatia, de civilidade, de consciência coletiva, de noção, de responsabilidade, de HUMANIDADE. 
O pau quebrando no Brasil, enfrentamos um momento político delicadíssimo, viemos de uma pandemia que vitimou milhões de seres humanos e deixou outros milhões desempregados e falidos e as bonitas seguindo o script como se absolutamente nada estivesse acontecendo. Nem 1 palavra de amparo, de consolo, ou só para dizer "Estou aqui. Sou humana também, me compadeço da sua dor que perdeu um parente, viu meu seguidor. Estou com medo também, estou tomando vacina, estou me cuidando" isso é INFLUENCIAR, pois a make e o look são fáceis de conseguir, mas, ser um ser humano REAL não é para qualquer um, pois quando nos expomos corremos o risco de sermos 'cancelados', de perdemos seguidores, de não nos identificarmos com certas marcas, nem elas com a gente. Ser um ser humano é expor a vulnerabilidade, e isso aí, meus caros, é só para os corajosos. É mostrar além do que a câmera mostra, é despir a alma e deixar de lado um pouquinho as roupas de grife. 

Mostre seus looks do dia, faça sua maquiagem, consiga seus publis, mas por favor, não deixe de nos dizer QUEM VOCÊ É, quem estamos seguindo. Qual era o seu maior medo na infância, qual o sonho que você ainda não realizou, o que você pensa sobre direitos animais, humanos, ambientais...quais são os seus valores inegociáveis, o que você quer ser daqui 20 anos... mostre que você se importa, que você está ciente dos problemas, das tragédias, que você também faz parte desse planeta e dessa raça. É isso. 

Furar a bolha não é tarefa fácil, mas torço para virar logo uma trend.  

Bruna Stamato