Ontem precisei ir à farmácia e assim que cheguei começou a cair a maior chuva. Meu primeiro pensamento foi "Como pode? Saí de casa 15 minutos atrás e estava o maior Sol!". Fiquei irritadíssima porque estava sem guarda-chuva, de sandália e eu não queria molhar meu cabelo.

Felizmente a irritação não durou mais que alguns minutos, a voz sensata que (às vezes) dá uns pitacos na minha cabeça falou "Você não acha absurdo ficar brava com a Natureza e a imprevisibilidade da vida?"
De fato, sim, era absurdo culpar a chuva. Quem saiu sem guarda-chuva e sem olhar a previsão do tempo fui eu rsrs

Esperei meia hora e a chuva não parecia diminuir. Não tinha o que fazer...era um percurso de 15 minutos a pé e lá fui eu.
Tentei correr no início, mas correr pra onde?
Tentei colocar a sacolinha na cabeça para me dar a falsa impressão de que eu me molharia menos...
Tentei pular as poças; andar rápido; me fechar com os ombros.
Até que, à medida que eu ia caminhando e tomando chuva, fui me refrescando. Estava um calor terrível em SP.
Desapeguei do cabelo, descontraí os ombros, liberei geral. E que alívio me deu.
Falei comigo "Quer saber? Eu adorava pegar chuva de verão na Bahia, pular na piscina no sítio da Vó Norma enquanto chovia, cantar nos shows na praia debaixo de chuva e faz muito tempo que não me permito molhar".
Passei a andar sem pressa, cantarolar País Tropical do Jorge Ben e rir de mim mesma.
Foi uma simples ida na farmácia, mas me serviu como um suave chacoalhão e uma singela catarse: Bruna, quando tomar chuva for inevitável, molhe-se com gosto. É a nota mental que eu preciso me lembrar diariamente. Serve para a chuva e para as adversidades da vida. Quando foge do nosso alcance, quando não podemos controlar o incontrolável, é melhor soltar e fluir com o fluxo do que resistir, esbravejar contra Deus e o mundo, perder muito tempo esperando estiar. Pode ser que não amenize tão cedo. E às vezes, os contratempos e as chuvas da vida servem para lavar a alma. Para nos lembrar das pequenas maravilhas de se estar vivo. Pode não estar nos nossos planos e ser o que a gente quer, mas com certeza, para a sabedoria divina é o que a gente precisa, nesse momento.

Bruna Stamato