Você já tomou um porre? Sabe aquela sensação no dia seguinte? Cabeça pesada, enjoo e a promessa de nunca mais beber 1 única gota na vida? Pois bem, queridíssimos leitores, é assim que ando me sentindo, de porre, de ressaca braba das redes sociais. E o pior, não passa com Engov...

O Instagram pra mim, virou aquele rolê chato, que você vai porque é obrigado, com um bando de gente que não tem nada a ver contigo, música que você não gosta, igualzinho festa da firma. Você PRECISA estar lá, precisa socializar, rir das piadinhas sem graça e enaltecer gente arrogante, caso contrário, seu emprego corre risco. E convenhamos, nos tempos atuais, não podemos nos dar ao luxo de correr riscos. Então...vamos aos eventos da firma. E mantemos nossas contas nas redes. 

Eu até tento me "enturmar", seguir as modinhas, socializar, mas a minha ressaca não permite. A sensação que tenho ao abrir meu Instagram pela manhã, é a mesma que o bebum tem ao se deparar com as garrafas vazias e sentir o cheiro da bebida na manhã seguinte à farra, só que no meu caso, eu nem ao menos tive farra. Preciso de um detox. Meu organismo está OK, já que não tomo um porre há uns 20 anos, mas a minha mente precisa se desintoxicar. Sou praticamente uma alcóolatra digital. Preciso me desintoxicar de tanta informação inútil, de tantos "experts" que vivem no CTRL C + CTRL V, de influencers que não me influenciam em absolutamente nada; de tanto conteúdo repetitivo. De tantos "hacks para a vida" e anúncios que vão desde meias-calças compressoras à lixeiras automatizadas que falam mandarim. É sobre isso e não, não tá tudo bem. 

Todo mundo tem uma fórmula infalível para enriquecer, para encontrar a alma-gêmea, para emagrecer, para vender 6x1, para transar melhor, para dormir perfeitamente bem. Mas eu...eu não. Eu não tenho nada disso. Eu tenho 36 anos e não tenho nem casa própria, quem dirá fórmula ou feitiço que me garanta a excelência em todas as áreas da minha vida. Desculpa se decepciono vocês que me leem e me acompanham. Mas eu prezo muito pela verdade, é um dos meus valores inegociáveis e não seria diferente em meus textos e livros. 

A minha verdade é que eu ralo muito para conseguir viver da minha escrita, que é a minha grande paixão na Terra, que eu preciso fazer várias atividades paralelas para pagar as contas e que eu não pratico Yoga Tibetana numa piscina de gelo às 6:00h da matina. E que às vezes, eu furo meu esquema alimentar e como 10 Bis em plena terça-feira e que vira e mexe eu penso em desistir de escrever e voltar para o mundo corporativo com um salário fixo por mês. Ah, nunca achei que fosse dizer isso, mas me pego nostálgica às vezes, com saudade de um holerite e de um bom e velho carnê de uma agência de turismo.

Outro dia me peguei lendo umas frases que um pseudo-auto-intitulado "escritor" (entre aspas mesmo, pois preciso honrar os Escritores que conheço) lança no Instagram e não sabia se ria ou chorava com tantas pérolas que falam o óbvio sem nem sequer seguirem regras gramaticais ou se preocuparem em soar bonito. E o moço em questão tem mais de 1 milhão de seguidores. Difícil de acreditar? Nem um pouco. Não me surpreendo mais com esse tipo de coisa, apenas perco o tesão. Sabe como é? Escrever para uma geração que não gosta de ler é difícil. Já me disseram que eu preciso escrever menos, fazer textos com leitura mais "dinâmica", reduzir meus textos em 4 frases para o TikTok e fazer livros "instagramáveis", com um enredo mais "Leve" (entenda: livros infantilizados para adultos Millennials). E lá fui eu. Criei minha continha no TikTok, coloquei musiquinha, resumi textos inteiros em 1 única frase e corrompi a minha alma escrevendo bobagens sem sentido e sem profundidade alguma, para atingir a grande massa voraz  que consome conteúdos supérfluos das redes sociais. Igualzinho o meu colega dos 1 milhão de seguidores faz. E me desceu como uma amarga saideira quando já extrapolamos todos os limites da embriaguez. Fiquei com raiva de mim, por não ter parado antes. Por me violentar ao ponto de sufocar quem eu realmente sou, em troca de meia dúzia de seguidores. Que fosse 1 milhão. Eu me dei conta que não quero seguidores. Eu não quero gente que me siga por gostar de coisas que eu só escrevo para ser comercial ou porque estou "na moda". Eu quero leitores, eu quero SERES HUMANOS que se identifiquem com quem eu sou, com a minha essência, que sintam que as minhas verdades são verdades; que sintam em seus corações. 

Minha mãe dia desses me perguntou porque eu estava parecendo triste, eu disse que não era tristeza, era cansaço. Era a enxaqueca do porre. Por todos esses motivos, porque eu não consigo escrever menos, sentir menos, não consigo criar uma personagem e vender. Não consigo trair a minha mesma, nem negociar minha alma com o diabo em troca de uns reais...não curto dancinha de TikTok e nem vídeos de 1 minuto e nunca conseguir fazer um 6x1 ou 6x7 que seja, em toda a minha vida. E que, sendo sincera, talvez eu nunca chegue a 1 milhão de seguidores. E ela se limitou a me responder "Você não é todo mundo, Bruna". Um banho de água fria necessário para quem está de pileque. E um café (e um ânimo) fresco também.

Quer saber? Obrigada mãe. Meus escritores preferidos não tem 1 milhão de seguidores. Então vou seguir escrevendo o que a minha alma ditar. Porque eu não sou todo mundo. Ainda bem!

:))


Bruna Stamato