"Posso dormir aqui com você? Tive um sonho ruim..."
Foi o que eu disse à ela, minha filha, nessa madrugada.
Deitei-me ao seu ladinho, sem fazer muito barulho e só voltei a pegar no sono segurando sua pequena mão. Ah! Como isso confortou meu coração. Todos os meus medos e inseguranças desapareceram como mágica.
Ela estava ali, no quarto do lado, dormindo tranquila, então...o mundo está ok. Tudo ficará bem.
Imediatamente troco as preocupações por agradecimentos.
E uma boa sensação me invade...é, acho que os problemas não são tão grandes assim.
"Ela vai rir de mim!" pensei, já rindo de mim mesma. E foi exatamente o que ela fez quando acordou pela manhã: "Mamãe, você fugiu pra minha cama de noite?!" e eu disse que sim, porque havia tido um pesadelo! E ela, ainda rindo, disse "Mas você é que é a mamãe! Mãe tem pesadelo?!"
Pois é filha, mães têm pesadelos.
Mães têm medos bobos e coragens infantis... Mães também sonham, fantasiam e rezam para o Santo Anjo Protetor, todas as noites.
Acho, que em algum momento da vida, toda mãe se torna também filha de seu filho.
Toda mãe sente aquele medinho pueril do abandono; da solidão. Do medo do escuro. Toda mãe, ao menos uma vez, precisa de colo; de consolo.
Precisa de carinho. De mãos firmes (mesmo que sejam delicadas mãozinhas) indicando o caminho.
Toda mãe também precisa de uma bronca, vez ou outra. De um bem dado puxão de orelha. Porque acabamos nos acostumando a "sabermos tudo", que certas vezes precisamos que alguém nos lembre que NÃO sabemos tudo. Que erramos, e que somos humanas.
Nessa história, de ter que ser forte o tempo inteiro e segura para não passar insegurança, precisamos de alguém que nos diga que está tudo bem...que errar é humano e que é bom aprender com os erros. E que estamos perdoadas.
Depois que o papai se foi, mamãe veio morar conosco. E minhas filhas acham super engraçado o fato dela ainda me dar bronca e pegar no meu pé para eu comer.
Outro dia, minha caçula disse "Vovó te trata feito criança!" e eu respondi que é porque ela é minha mãe! E para ela, eu sempre vou estar precisando de cuidados e mimos e que desta mesma forma será com elas, por mais que elas cresçam e sejam casadas e tenham suas famílias, elas serão para sempre minhas meninas, então, eu vou cuidar e dar bronca e me preocupar o resto da vida.
Porém, esta convivência tem me permitido ver o outro lado da maternidade: O amor filial.
À esta altura da vida tenho me permitido trocar um pouco os papéis e me pego preocupada com a mamãe do mesmo jeito que sou com as crianças.
Se o tempo esfria demais, mando todo mundo botar os pijamas quentinhos. Se faço um bolo ou um lanche, separo os pedaços para cada uma. Se escuto uma tosse meio estranha já fico de olho, e se persistir, compro xarope e quero levar ao médico.
Dou bronca também. Pego no pé e às vezes enlouqueço com as manias dela. Mas, acho incrível o fato de eu ser para duas pessoinhas, TUDO aquilo que ela, a minha mãe, é para mim. Cara, que responsabilidade! Eu sou o mundo de alguém, o porto seguro, o alicerce. Mas nós, filhos, não sabemos, que na verdade nós somos tudo isso e muito mais, para elas.
Minha mãe nunca foi uma SUPER heroína! Que choque descobrir isso! Ela não é a mulher que eu achei a vida toda que fosse... Não... Ela é muito mais do que eu pensava.
Ela tremeu de medo quando eu cortei o supercílio num pequeno acidente de carro que tivemos quando eu era pequena, e mesmo que ela tenha me mantido calma e estivesse sorrindo "tranquila" enquanto esperávamos socorro, hoje eu tenho certeza: Ela chorou escondido!
Provavelmente deve ter feito uma promessa maluca em prol da minha recuperação e deve carregar consigo uma culpinha boba, até hoje.
Minha mãe não é, nem de longe, aquela fortaleza impávida que muitas vezes eu pensei que ela fosse... Que espanto! Mamãe é HUMANA! E ela também teve pesadelos muitas vezes.
Ela fez seus sacrifícios pelo nosso bem estar. Ela se negou muitas coisas para que nós pudéssemos ter. Ela esqueceu dela mesma, incontáveis vezes, por nós.
E essa madrugada eu pude compreender toda a abrangência e ambiguidade do amor maternal.
Eu pude compreender que mães também são carentes certas vezes. Que mães também gostam de se sentirem protegidas e acalentadas. Que mãe, às vezes, precisam ser...filhas.
Eu gosto quando a minha mais velha vem dar palpite na minha roupa, quando ela me dá uns "toques" bem modernos sobre combinação de maquiagem que ela viu no Youtube... Quando a minha pequenininha diz "Mamãe não chora, a gente tá aqui!" Mas elas não sabem ainda, o valor, a inaudita dimensão e PODER que essas singelas palavrinhas têm, no meu coração. Elas acham que eu sou forte e invencível, mas, eu só sou tudo isso porque ELAS existem!
Elas são tão pequenas e tão gigantes pra mim! Elas são tão ingênuas e tão sábias... Elas ainda não sabem, que eu me sinto um pouquinho filha delas, também.
Mas...se tudo der certo, saberão um dia! Quando elas forem mães.
Aí...tudo faz sentido! Tudo é entendido.
Uma vida inteira sem entender direito a tal da Intuição materna infalível e das profecias "absurdas" mas que sempre se concretizavam, uma vida toda odiando ouvir as frases "Viu? Eu te avisei" e "Você não me ouve, é nisso que dá!" e achando um exagero dramático a frase "LIGA QUANDO CHEGAR!", se faz absolutamente compreensível.
E mais! Passamos não somente a concordar com as nossas mães, em quase tudo, como também a não saber como elas chegaram lúcidas e sãs, até aqui!
Como a minha mãe sobreviveu aos meus shows de rock que terminavam de manhã e às vezes que eu acabei dormindo na casa de uma amiga sem avisar?! Minhas filhas não farão isso, de jeito nenhum! (*risos*)
Como ela não quis MATAR aquele idiota do meu primeiro namoradinho que me fez sofrer? Ah...se um dia um garoto fizer isso com uma filha minha... Como a minha mãe não me prendeu em casa, para que eu nunca nunca saísse do lado dela?!
É mesmo inacreditável. Mães são seres inacreditáveis.
Nada mais justo que sejam, então, um pouco nossas filhas e recebam igual carinho, cuidado e atenção que nos deram.
Minha filha finalizou dizendo "Mamãe, você sabe que não precisa ter medo de pesadelo, é só um sonho ruim, não é de verdade!" e eu respondi com um sorriso.
Quando eu estava saindo para o trabalho ela gritou "Mas você pode vir pra minha cama sempre que quiser, viu, manhê!"...que bom que eu ensinei isso à ela.
Obrigada, filha!
E eu pensei "Vou dizer a mesma coisa pra minha mãe!" Vai que...rsrs
Bruna Stamato
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