Pode parecer estranho ouvir que os sonhos também envelhecem. Mas é a ordem natural da vida.
E como saber se não somos nós que envelhecemos e deixamos de crer no antigo sonho?
Acredito que nossa idade cronológica e o avançar dos anos não sejam armas letais para sonhos contundentes, sonhos presentes, sonhos que servem de lenha para a alma. Esses sonhos resistem uma vida inteira, sem nunca perderem o encanto o a luz. São sonhos atemporais.

Outros, no entanto, à medida que vamos seguindo nossa estrada retilínea rumo ao desconhecido, parece que não nos acompanham, não evoluem conosco, não são maleáveis, mutáveis e vão ficando opacos com o passar do tempo. 
Seriam sonhos fracos, irrelevantes? Na maioria das vezes não. Na maioria da vezes esses sonhos que envelhecem dentro de nós, mesmo que nós mesmos não tenhamos envelhecido tanto assim, são enormes.  

Vou dar-lhes um exemplo pessoal: Sempre gostei da cidadezinha onde passei minha infância com meus pais e quando me casei fui morar em São Paulo, passei quase 10 anos em SP, e esses quase 10 anos cultivando o sonho de voltar para a antiga cidadezinha com a minha família, comprar uma casinha na praia, um cachorro e as crianças correndo livremente...o tempo foi passando, eu fui mudando, as crianças crescendo, a vida tomou outros rumos, e esse sonho permanecia em mim.
Meu casamento chegou ao fim, as crianças maiores agora, meu pai faleceu e me deixou uma casa lá onde ele morava. Minha chance então, de enfim, realizar meu sonho. Lá fui eu!

Reencontrei amigos do colégio, mas não retomei a amizade com muitos deles, por falta de afinidades agora, não aguentei ficar na casa sem o papai, a vendi e comprei outra, no centro da cidade, como eu sonhara. Coloquei as crianças no mesmo colégio no qual eu havia estudado quando pequena e fui montar meu negócio como o planejado. 

Vivi meu sono dourado por alguns meses, enquanto estava com a grana da casa, enquanto terminava minha reforma, enquanto cuidava da parte burocrática do meu negócio. A vida estava perfeita. Até...até a realidade começar a chamar, as contas começarem a surgir, as dificuldades e diferenças começarem a pesar, até eu começar a sentir falta da minha rotina maluca na maior cidade do pais, eu sou louca? Sou uma chata inconformada, pensava! "Por que eu não estou mais sendo tão feliz quanto eu deveria?" era a pergunta a que me consumia. 

Pensei em ir pra terapia, em me ignorar, em ficar de mau comigo, até que em uma dessas madrugadas acordada me corroendo de raiva de mim, por NÃO ESTAR SENDO TÃO FELIZ QUANTO EU DEVERIA, eu parei e pensei: "PERA!!Mas quem estipulou essa meta de felicidade que eu não estou conseguindo bater?". Resposta? EU! Eu havia colocado na cabeça que na vida nova eu não teria problemas! Minha rotina seria ir para a praia, montar meu negócio, a casa própria eu já tinha, buscaria as crianças na escola, pararíamos para tomar sorvete, domingo na pracinha...e realmente foi assim, deste exato modo. Realmente, meus problemas com trânsito acabaram, meus perrengues com aluguel, mas...
Sim, tem um 'MAS'.  

Mas, meu negócio não foi pra frente...tive que correr atrás de um emprego, esse emprego, me paga 1\3 do que eu ganhava em SP, me limitou de ir buscar as crianças no colégio, minhas contas começaram a acumular pois o custo de vida, alimentação e vestuário, é mais alto do que eu tinha...minha casa é grande, moro sozinha, e às vezes sinto que não consigo dar conta de tudo, que me gerou um outro tipo de stress, desculpa, mas sinto uma pontinha de  falta do meu prático e funcional AP em SP *risos*  

A rotina de praia todo dia é uma delícia, mas começamos a sentir falta de shopping, de cinema...de parques, livrarias, teatros, vida noturna, restaurantes, VIDA CULTURAL, dos amigos que fizemos por lá...enfim, a pegada de vida é oposta e foi então que eu me dei conta de que o meu sonho tinha caducado. 

Eu ainda amo praia, vida de interior, paz e sossego, mas agora, sinto falta da minha rotina atribulada. Eu não tinha essa saudade quando fui pra SP, mas agora tenho! Eu não tinha a minha bagagem atual de vida. Eu tinha outros planos para este sonho...Entende? Eu queria tê-lo vivido 10 anos atrás!
Mas então não fui eu que envelheci para esse sonho?
Não. Foi ele que envelheceu dentro de mim. 
Eu já tinha me dado conta na verdade, os sonhos mandam sinais quando vão perdendo o brio, assim como as estrelas que explodem e geram luz ao morrerem. 

Eu já tinha me imaginado vivendo em cidadezinha pequena outra vez e tinha me soado um pouco utópico. Mas, como ele já era um sonho maduro, decidi arriscar. Como eu desperdiçaria a oportunidade de realizá-lo?! 
A verdade é que eu não o desejava mais com tanta força, mas como ele havia sido meu companheiro por tanto tempo, eu estava tão habituada a ele, que eu fiquei com receio de soltá-lo, de admitir que sua hora já havia passado...o sonho já não me servia mais. Prescreveu. Eu não sou mais a pessoa que o arquitetou, anos e anos atrás.

Não é fácil enterrar um sonho.

Mas alguns precisam mesmo ir. E nós, precisamos mesmo de um período de luto, onde parece que nossa alma virou um deserto super árido e que nada mais vai crescer. 
Mas aí...aí mudamos a estação da alma, o inverno se vai, e vem a primavera, onde novos sonhos florescem. 
Eu paguei pra ver. E continuo sentindo AMOR por este sonho da vida perfeita do comercial de margarina, mas aceitei todas as minhas imperfeições agora. E ele, virou uma saudadezinha boa.

Continuo vivendo na minha cidadezinha, mas velei o sonho perfeito e agora estou com novos sonhos recém - nascidos e cheios de vitalidade! Agora sei que os sonhos são o alimento do espírito, mas que nem sempre devemos sacrificar tudo e todos por eles, alguns sonhos conflitam com nossos desejos momentâneos, por mais paradoxal que possa parecer. Alguns sonhos foram feitos para viverem somente nos nossos corações.
E todos os outros, prefiro chamar, agora, de METAS.  

Faça um checkUp na saúde dos seus sonhos, veja se já não possui algum muito debilitado, que vai conflitar com os teus projetos futuros, que vai sacrificar por demasiado o teu hoje, que vai sacrificar relações com pessoas que estimas. Certas coisas merecem ficar no passado, elas estão lá por algum motivo.

E não se torture se você decidiu arriscar suas fichas num sonho que morreu, pelo menos VOCÊ vai poder olhar pra trás um dia e dizer que viveu e isso não é mesmo para qualquer um. Viver um sonho é para os fortes! Os fracos nem sequer se permitem sonhar.

Às vezes a gente só percebe isso tudo, quando arrisca de verdade. E essa é a graça dessa vida! É o preço pago. É a nossa bagagem emocional mais valiosa.


O único sonho que não poder morrer, jamais, dentro de nós, é o de ser absurdamente feliz!

Bruna Stamato
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