Ando me perguntando, POR QUE as telenovelas ainda insistem nos mesmos enredos e tramas tão clichês, previsíveis e retrógrados de sempre?
Em pleno ano de 2017 (DOIS MIL E DEZESSETE!), nós, mulheres, enfim somos PROTAGONISTAS de nós mesmas e, definitivamente, não queremos mais esperar pelo último capítulo para, enfim, sermos felizes. 

Nosso conceito de "Final Feliz" também mudou ao longo dos anos... Hoje nosso HappyEnd está longe da premissa ultrapassada de um lindo vestido branco e um casamento com o galã, que tivemos que DISPUTAR com a antagonista, lutar e sofrer muito para viver o "amor", enquanto nos esquecíamos da própria vida.
Pode parar por aí! 
Na vida real, se o "amor" está muito sofrido, disputado e difícil, vá embora, amiga, porque não é amor de verdade. O amor real é para ser o oposto...

Não me sinto representada por nenhuma "Mocinha" atual...todas muito chatas, fúteis e um tanto dependentes. 
Um homem não pode ser o tema de uma vida! Nem de uma novela... Um HOMEM não pode ser OBJETIVO de vida de nenhuma mulher! Somos mais! Muito mais do que isso!
Queremos sim uma família linda, mas não SOMENTE isso! Queremos ser ótimas mães, mas TAMBÉM queremos aprender francês até o final do ano! Queremos ser boas donas de casa e cuidar do lar, mas TAMBÉM queremos fazer MBA.
Queremos ser ótimas esposas, mas TAMBÉM queremos ser ótimas profissionais!
 

Se ser "mocinha" é me apaixonar por um cara que não sabe direito o que quer, que diz que me ama, mas sempre cai no jogo da outra, que diz que quer estar junto, mas nunca consegue...se ser a "mocinha" implica que eu viva todos os meus capítulos sofrendo, passando dificuldade e abdicando das minhas vontades em prol de um macho - alfa, então desculpa aí, mas eu rejeito o papel.
Pois não abro mão de ser AUTORA da minha própria história. 
Eu escrevo se o meu final vai ser feliz ou não, porque eu escolho o meu presente.
Eu não sou governada pela força de um "amor" e nem mais bobinha para cair nas armadilhas dos vilões. Hoje, eu sei exatamente o tipo de amor que eu quero. E...sinto chocá-los mas, hoje, eu também sou um pouco vilã.
Posso dizer então, que sou uma mocinha, com um "Q" de vilania e empoderada do meu papel. Do meu papel no MUNDO.

Gostaria de ver, e poder assistir com as minhas filhas pequenas, uma protagonista que lutasse para ser INDEPENDENTE! Que batalhasse para estudar fora, que mostrasse a realidade de mulheres que são mães e pais, e uma família inteira! A realidade da maioria das mulheres modernas, da nossa nova formada de jovens empreendedoras, que se dividem entre a faculdade e o trabalho, que ajudam a sustentar a casa, que são donas de si, de seus carros e suas bolsas de grife, por que não?! Sem que para isso precisem passar a perna nos outros ou darem golpe em homem rico.

Gostaria de ver uma "Mocinha" que não abaixa a cabeça e chora com as injustiças da vida, mas que vai ao seu fundo do poço e ressurge, com a garra e a coragem suficientes para conquistar o que é seu. 

Uma mocinha apaixonada...por ela mesma!

Que quer que a sua trama se desenvolva muito mais do que um namoro - meia - boca onde o casal principal nem tanta química assim. Quero ver as mocinhas vivendo amores REAIS, possíveis e MARAVILHOSOS! 
Daqueles amores amigos, companheiros, que abrem um vinho numa terça feira quando o dia foi péssimo...

Porque a gente não aguenta mais tanta maldade. Nas novelas, e no dia a dia. A gente não aguenta mais essa sensação de impunidade. Nas novelas e na vida.
A gente não quer mais ver o mal se dando bem o tempo inteiro e o bem cansado só triunfando depois de muito lutar, a duras penas.
Não...
Eu quero ver o mal sendo derrotado de primeira. Sem vez!
Não quero que as minhas filhas achem que se casarão com um cara ao fingirem uma gravidez. 
Não quero que elas aprendam que chantagem e mentiras funcionam, na maioria das vezes...

Desculpa, Rede Globo, mas eu adoraria ver uma "mocinha" que teve força para denunciar o companheiro agressivo, que conseguiu se livrar de um relacionamento abusivo e que deu a volta por cima por ela mesma! Que com a pouca oportunidade que teve da vida, se reergueu e se reinventou! Aprendeu sobre amor-próprio, voltou para os estudos que havia largado, e viu que era capaz de muito, MUITO MAIS que pensava. Muito mais que as pessoas lhe diziam... Muito mais do que ela mesma achava.
Uma mocinha que aprendeu uma nova função, que aprendeu a dizer NÃO, que se tornou, graças as adversidades da vida, um MULHERÃO.
Adoraria ver essa mocinha desabrochar. Mas, não para o primeiro amor, mas para ela mesma. Para o décimo amor, pois ela aprendeu que amores vem e vão, que ela pode ser a sua melhor companhia perdeu o medo da solidão.

Uma mocinha, não, permitam-me corrigir, eu gostaria de ver uma MULHER, que sabe cozinhar, quando QUER, e não porque é sua obrigação. Uma mulher que não pensa mais em só estar linda para agradar um homem, mas também pensa em como fazer a sua pós - graduação... e que se deu conta, que ela não precisa vestir 36, nem ter longo cabelos cumpridos e loiros, para ser sexy! Uma mulher que não quer seduzir o galã. Que quer ver se ELE é capaz de seduzi-la.

Que tal invertermos os papéis? E mostramos que um homem TAMBÉM é capaz de ser um maridão e pai exemplar?! Que homens também podem cozinhar  e fazer um jantarzinho surpresa para mimar sua mulher?!
Que tal mostrarmos que um homem quando ama de verdade, não bate, não agride nem humilha sua parceira?
E que VINGANÇA é uma perda de tempo?!
Que TRAIÇÃO É UMA ESCOLHA, e não uma consequência, a vitimização, de ter bebido demais ou ter sido "dopado" pela megera.
Que tal ensinarmos que na vida real, isso é CRIME e que, quem é louco ao ponto de drogar uma pessoa, precisa de TRATAMENTO sério?

Que tal mostramos que depressão e transtorno de Bordeline têm tratamento e que a vida pode ser boa?
Que tal enfatizarmos os bons feitos das pessoas, mostramos o lado BOM da humanidade, e deixarmos assassinatos bárbaros e crimes hediondos um pouco de fora?
Que tal focarmos que uma gravidez na adolescência traz muito mais consequências do que um lindo bebezinho feliz? Que a vida não é a Malhação, onde tramas bobas se misturam a problemas sutis...e que se você engravidar aos 15 anos, você provavelmente NÃO viverá um conto de fadas com a sua grande paixão...
Que tal ensinarmos aos jovens que DROGAS existem, e que é uma furada... Que o índice de alcoolismo na adolescência é crescente e incentivado e permitido indiretamente pela sociedade? Não adianta mais fingir que tais problemas não existem...
Que tal ensinarmos que HOMOSSEXUALISMO não se trata só de dar um beijo no galã no final, mas mostramos infelizmente a dura realidade do preconceito ainda existente no Brasil? 
Que tal se mostrássemos também as tristes e chocantes consequências do Bullying? Na escola, no trabalho, na família?!

E QUE tal se tratássemos da questão do ABORTO, não sendo somente uma questão religiosa e feminina, mas abordássemos o aborto masculino, o abandono que ocorre aos milhares e todas as suas consequências?!
Que por essas e outras, MUITAS OUTRAS, a camisinha se faz INDISPENSÁVEL hoje em dia.
Que tal se tentássemos, ao menos, mostrar aos telespectadores, que assédio sexual é um crime repulsivo e que possui diversas faces, muitas delas sutis e aplaudidas pela sociedade.

Que quando passa uma menina de 13, 14 anos, e você mexe com ela, e fala uma gracinha, que você é cúmplice da pedofilia. Poderíamos tentar mostrar o mal da erotização infantil permitida, disfarçada de "brincadeira" e muitas vezes incentivada pela mídia e pela população, sem que ao menos se perceba.
Que quando mostramos a grande megera da novela APANHANDO porque "MERECEU", estamos incitando a violência, mesmo que seja "merecido", a JUSTIÇA existe pra isso. Quando mostramos uma personagem como o "Tião Bezerra", humilhando, agredindo verbal, física e sexualmente a personagem da "Magnólia", estamos sendo CONIVENTES com a violência contra mulher! E que existem INÚMERAS FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHER! Muitas delas subjetivas...camufladas, falsamente apelidadas de "amor".
Nenhuma violência é combatida com mais violência, cara Rede Globo...
Me dá horror, náuseas e arrepios assistir ultimamente, as novelas de vocês. Pois antes delas, nós já assistimos ao Jornal Nacional, onde a violência e a barbárie é REAL! Não me levem a mal...

Mas gostaria de ver mais empatia, empoderamento, sororidade e AMOR, DE VERDADE, amor legítimo, na grade. 

Bruna Stamato