Estou descendo a rua da tua casa e não sei o que corre mais
rápido, se os meus pés ou se as minhas lágrimas.
Uma enorme vontade de tocar a campainha, e de que você viesse
me receber correndo, como costumava fazer, com aquele teu jeito único de me
dizer “eu te adoro!” sem nada dizer. Ainda posso sentir o seu cheiro. E o
cheiro de alfazema da nossa roupa de cama. Só não mais sinto aquela sensação de paz que tal cheiro me dava... O cheiro inebriante das nossas
manhãs, quando tu abria as janelas e de como teu cabelo ficava lindo sob o Sol.
Te soa poético? Pra mim, é como um conto de terror. Mais para
uma crônica fantasiosa...Já faz tanto tempo, que parece que vivemos nosso
romance em uma outra vida bem distante.
Já é primavera outra vez, as flores do teu jardim estão
nascendo, eu pude ver pela grade do portão que ainda é o mesmo de quando nos
conhecemos.
Passamos por mais um verão, um outono e um inverno. Mas, a minha
alma parece que não acompanhou tal evolução.
E permanece num gélido outono há muito tempo.Quanto tempo mesmo?
Eu já nem lembro mais, já parei de contar quantas primaveras
faz, que não floresce muita coisa aqui dentro. Meu coração, de repente, virou
um grande campo de plantação vazio: Olhando de longe é lindo, mas vendo a fundo
notamos, que por mais que semeemos muitas coisas, nunca vinga a colheita.
O tempo não é bom agricultor. Não é a função dele. O tempo só
passa. Quem tem que arar o solo, somos nós. Quem arranca plantações é o vento;
Quem faz crescer é a chuva. O tempo...só passa. E o meu amor por você, ao
contrário do tempo, não passa nunca.
Eu já não guardo mais fotos, já abdiquei de datas. A memória
começa a falhar; Traços e trejeitos já não são tão importantes, mas em alguns
detalhes o meu coração insiste em se apegar. Àquele sorriso que por mais que eu
tenha procurado, nunca mais encontrei nem similar... E teu jeito ímpar de
segurar as minhas mãos? Nem arrisquei tentar. Problema sério temos, quando o
timbre da voz ainda nos faz arrepiar. Quando o nome do ser ainda nos faz perder
a compostura, quando nossas ansiosas pupilas já não conseguem disfarçar.
Meu coração sente falta de como eu me sentia naqueles tempos.
Da típica empolgação frívola que só uma paixão oferece. De tudo que eu planejei
e vi que não conseguiria realizar. Acabar com um amor é fácil. Difícil é acabar
com todos os sonhos que tão cuidadosamente e alegremente arquitetamos no nosso
travesseiro, depois de muito se amar.
A gente segue. Porque tem que seguir. Mas o coração nem
sempre nos acompanha. Certas vezes o perdemos e logo depois ele nos encontra,
certas vezes nem um salto ele dá, quando mais imploramos, e algumas raras vezes
ele se muda de nós. Deixando de herança um amor tão inexplicável e infinito
como o Universo.
Amores que não têm o menor fundamento, amores que nunca
passaram de breves momentos. Amores que foram maiores que o tempo. Amores que
abriram buracos negros na nossa alma. Amores que nós amaríamos ter amado com
calma...
Tem amores que o tempo não leva. Que ninguém substitui...que
nenhum outro amor passa nem perto. Não adianta lutar e tentar subsitituir,
temos que aceitar que relações acabam, mas que um grande amor pode ser
perpétuo.
Que existem pessoas que vão existir pra sempre dentro de nós,
mesmo se não existamos mais nelas, mesmo que elas não existam mais nesse mundo.
Que esse amor só pode existir dentro dos nossos corações, na nossa fértil
imaginação, e não mais na nossa vida.
Aprendamos a rir com a saudade; A chorar de felicidade, por
tudo ter existido um dia. A amar por vontade e não mais culpar o destino.
Aprendamos a dar valor a quem nos da valor, a lição dói, mas a vida ensina.
Aprendamos que existem várias formas de amar nesse mundo e que nem todas
precisam, necessariamente, ser viscerais. Aprendamos a distinguir os amores
divinos, dos amores carnais. E a extrair a beleza, e os risos que só um amor
nos traz. Mesmo que nem todos morem em nós.
Eu? Eu não acredito em amores eternos. Mas que eles
existem...existem.
Bruna Stamato
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