Desculpa se não consigo mais me acostumar em tomar meu café da manhã em silêncio, na minha cozinha vazia. Juro que eu tentei ligar o som alto e fazer aquela omelete que você fazia, mas a saudade riu de mim.
Ainda não consegui tirar o hábito de pegar o celular na cama, de manhã cedinho, só pra responder a sua mensagem de bom dia.

Eu fui ver aquele filme que você queria...e confesso que não sei nem o enredo, o único filme que passou na minha cabeça foi o nosso e eu não consigo acertar o final. Tinha tudo pra ser um lindo romance, não quero que vire um dramalhão. Não tenho a mínima intenção de competir com Romeu & Julieta. No meu filme, nós estamos juntos e nos amando muito na última cena. Ainda não sei como irei mudar esse roteiro.
Até já me acostumei a dormir do outro lado da cama, sabia? Não teríamos mais discussões quanto á isso, juro!
Juro também que serei uma pessoa mais paciente e feliz, se você ficar. E em não perder a hora para o trabalho depois do nosso amor matinal, será a única coisa que você vai ter que se preocupar. Do resto, eu cuido. Eu cuido de você, com todo o meu amor, se você deixar. E te faço canelone com molho branco todos os dias...desculpa, não quero apelar!

Mas, falando sério, o mais sério que consigo ser, eu estou oferecendo a minha casa, o meu coração e o meu mundo pra você. E eu achei, que nunca mais na vida, isso fosse me acontecer. Eu já tinha me acostumado à ideia de viver sozinha, sem o amor, mas não me acostumo à ideia de te perder.
Não quero virar teu passado recente. Não quero ser a sua lembrança boa... Não quero me misturar às tuas histórias de adolescente.
Eu não quero ir naquele bar que a gente curtia, sem você para me agarrar no canto, para falar no meu ouvido o quanto você me quer...não vai ter graça sair de lá cambaleando depois das cubas que a gente dividia, sem ter você pra me manter em pé. Eu não quero curtir o Renato (Russo) sem você cantando junto! Desculpa se todos esses detalhes se tornaram de suma importância pra mim. Desculpa se os meus textos te perturbam, mas, eu preciso escrever.Eu preciso que você saiba que eu nunca mais consegui ir à minha praia preferida, sem lembrar de você. Sem que essa lembrança me consumisse por inteiro. 

A minha praia preferida se tornou V-O-C-Ê! 

E eu troco todas elas, pra estar ao seu lado. Na montanha, no frio, no calor, no deserto, no Himalaia, no trânsito, na Marginal Tietê; Hoje, tanto faz pra mim, desde que estejamos juntos, é o que eu quero te dizer.Você me perguntou se eu topo a vida contigo.  E eu te digo, não é uma questão de escolha. Meu coração não me permite sequer cogitar a remota hipótese de viver longe de ti. O que eu posso fazer?! Eu tentei lutar contra, mas não consegui.Não consegui mais passar na frente do Point do Açaí, do boteco do Gallo e do beco do Eidi...pareço um fantasma arrastando corrente por aí.Tampouco consigo dormir, tomar polpa de manga e rir, sem a sua presença.Eu te deixei ir...porque queria evitar meu sofrimento, de te ter por uns dias e de te ver partir a qualquer momento, deixando meu coração na lona e minha mente à deriva, meu corpo feito um zumbi. 

Mas, a dor de talvez nunca mais te ter em mim foi maior que todas as outras que eu já senti.Isso não é amor; Não é paixão; Não é loucura. Já extrapolou tudo isso. É a coisa mais certa e sã que eu já vi.É o sentimento mais sóbrio e lúcido que já se apossou de mim. Nunca antes na história desse ser, eu tive tanta certeza do que queria ser, e eu quero ser sua. É a única ambição que possuo. Esse amor é o meu bem mais valioso. E os teus olhos me dão o rumo...Eu não estou pronta pra zerar o placar, pra me recomeçar, pra fingir que nada aconteceu; Para apagar as tuas fotos do meu computador; O teu corpo da minha memória; O “você e eu”. Eu não quero esquecer os nossos filhos que nem nasceram, muito menos o projeto da nossa casa nova, com cozinha gourmet. 
Eu não quero esquecer as juras que fizemos, o amor que fizemos, as loucuras que fizemos, e a contagem do tempo, que deixamos de fazer.Porque tudo com você foi intenso desde o começo, desde o nosso primeiro beijo, na contramão do carnaval, até o desejo de ter você, que em mim se tornou vital; Passando pela guerra de gelo na cozinha, pela tua mão na minha; Por toda a nossa história real. Eu só quero virar passado se for nos álbuns de fotografia, que os nossos netos mostrarão um dia, num almoço de Natal.

Terminarei esse texto com reticências, se me permite, pois com você me apavora a ideia de qualquer ponto final...


 Bruna Stamato