Já não sei que horas são, mas sei que ainda está escuro lá fora, enquanto ouço seus passos suaves tentando não me acordar. Olho rapidamente para a minha mesa e vejo que teu notebook ainda está lá. Um alívio efêmero me invade, volto a deitar; Agora quem me faz companhia não é mais teu corpo que tanto amo, é a saudade, que por mais algumas horas vai me acompanhar. Não reclamo, pois esta saudade é daquela gostosa, fácil de matar. Passo o dia ansiosa, e com certa alegria, afinal por mais um dia, posso fazer planos pro nosso jantar. Mas enquanto corto a cebola, esperando você chegar e ouvindo Paralamas que você adora, me pergunto até quando você vai voltar. Não consigo conter as lágrimas, mas não quero estragar o clima, então tento me apegar á filosofia do “um dia de cada vez”, mas é dilacerante saber que amanhã ou depois, não te terei mais na minha cama, nem bagunçando as minhas estantes. Não terei o cheiro do teu cigarro nas minhas almofadas, nem o cheiro do teu perfume nas minhas roupas. Isso, realmente, não está me cheirando bem. Eu sei que vou sofrer, porque na verdade já estou sofrendo, de angustia, de antecipação, de saudade de você. Na verdade verdadeira, não será saudade de “você”, será de “nós”, porque eu gosto da pessoa que sou quando estou ao teu lado, mas ela vai embora junto com você, cada vez que você sai por aquela porta. Fico esperando vocês voltarem pra mim, sabendo que nenhum dos dois, de fato, me pertence. Eu sei que vou morrer por dentro, quando a hora da despedida chegar e eu sei que deveria correr pra te falar tudo que está engasgado, fazendo meu coração disparar. Eu já nem como direito, não presto atenção em nada, não consigo me concentrar. Mas acho que não tenho esse direito. Na verdade não é nada demais, eu só queria pedir pra você me levar. Eu iria pra onde você fosse, deixaria tudo pra trás pra te acompanhar. Pra China, pro Iraque, pro outro lado da cidade. Pra casa da tua vó, pro cinema no domingo, pro role de bike. Eu iria contigo, eu iria de qualquer jeito. Mas eu não sei como se diz isso. Eu também não sabia como amar, como se apegava, e como era bom se aconchegar no sutil sobe e desce do teu peito. Eu não sabia como poderia dividir meu espaço com alguém, até você aparecer, com esse jeito tão único e intranquilo de ser. É...eu não daria nada por você. E hoje me pego fugindo do relógio, fugindo das pessoas, de mim mesma, tentando evitar ao máximo me doar, me entregar, me declarar, como se alguma coisa pudesse magicamente reverter a situação, como se alguma palavra não dita não passasse de mero detalhe para o meu coração; Como se algum olhar não trocado fosse capaz de evitar a minha paixão. Como se o fato de você se manter calado fosse suficiente pra negar a intenção. Como se o meu corpo não tremesse por inteiro só de sentir o alterar da tua respiração... Como se eu não fosse te amar essa noite, insanamente, até perder completamente a razão. Você me abraça como se não quisesse me soltar nunca mais, e mesmo sendo a coisa mais louca da minha vida, eu acredito. Eu acredito no que teus braços me dizem. No que a tua boca me fala sem uma única palavra dizer. Pra você ver, como palavras realmente se fazem desnecessárias nesta ocasião. Até do céu dá pra ouvir nitidamente as batidas do meu coração, enquanto suplico silenciosamente que você nunca se vá, que você nunca solte a minha mão. Enquanto a gente faz amor eu peço mentalmente, para que um milagre aconteça e mude essa situação. Para que você nunca esqueça tudo que vivemos, e tudo que, infelizmente, deixaremos de viver. Mas, se fosse pra eu fazer, tudo de novo, eu faria tudo exatamente igual, mesmo sendo esta a condição. Mesmo correndo o risco de condenar o meu amor á solidão. Eu acredito mesmo que o amor seja a forma mais poderosa de oração. E Deus sabe o quanto eu tenho rezado ultimamente. Bruna Stamato