Ainda não me perdoei por não ter ido atrás de você aquele dia. Por ter mais uma vez confiado demais em mim e acreditado de menos no que você dizia. Eu fiquei esperando você voltar. Fiquei esperando a porta abrir. Eu fui até o seu armário e vi que não havia mais nada seu lá mas que diferença isso fazia, se a alma da casa era você e todos os cantos estão ainda impregnados de você. As coisas materiais são mero detalhe eu não preciso delas pra me lembrar de você. Você sempre foi minha. Sempre! Até quando eu não queria que fosse. Até quando eu te dizia para não ser. Você era minha só por querer. Nada te prendia naquele apartamento apertado, aguentando o meu mau humor, você era minha só por causa do amor que você sentia, você não precisava de mim, você sempre foi mais esperta, mais forte, a sua luz brilha demais, roubava as atenções, e eu, como um vagalume covarde não podia deixar você ir. Por isso fiz você acreditar que era você que não conseguiria viver sem mim. Tentei me sobressair. Mas você se deu conta, depois de tanto que fiz, ou melhor, depois de tanto que eu deixei de fazer...é, eu confesso, nunca achei que você me deixaria. Não de verdade. Não tão depressa. Não pra sempre. Não posso nem dizer que só comecei a dar valor depois que te perdi, porque eu sempre soube a mulher extraordinária que tinha ao meu lado, mas não queria que mais ninguém soubesse. Não queria te dividir, correr o risco de você perceber rápido que era capaz de arrumar coisa muito melhor que eu. Hoje o que me resta, além de admitir pra mim mesmo, é te acompanhar de longe, ver tuas fotos sorrindo ao lado de outro cara e pensar se você estará passando as suas unhas nas costas desse cara, daquele jeito que você fazia comigo e que me deixava completamente sem reação, se você vai colocar sua camisola branca e prender seu cabelo daquela maneira que fazia o mundo parar em segundos...com certeza ele deve ser louco pelo seu sorriso. E eu espero que ele te confesse isso várias vezes por dia, que ele seja o cara dos seus sonhos, o cara que você idealizou pra mim e eu nunca pude ser.Com um medo absurdo de crescer e que você descobrisse como era importante pra mim. Não me resta a menor dúvida de que você será feliz e que construirá a família que tanto quis. Eu...eu vou colocar um ponto final nessa carta e tentar colocar um ponto final na nossa história, sair pra beber com a galera, viajar no réveillon e tantas outras coisas que eu supostamente queria fazer enquanto estávamos juntos achando que isso me daria alegria, o que eu não sabia, era que a alegria não era em ir, mas sim em voltar. Em voltar para a nossa casa, sabendo que te encontraria na minha cozinha, cantando Aerosmith enquanto preparava o jantar. A minha cozinha nunca mais viu vida e a sua garrafa de vinho ainda está guardada, só queria que você soubesse...que você soubesse que você não falhou em nada, que você era sim perfeita pro meu mundo e que eu, como um idiota nato, tive medo disso e deixei que as minhas inseguranças naufragassem o nosso amor. Eu queria que você soubesse que no fundo eu achava graça de quando você perdia a paciência esperando o futebol acabar, de quando você se arrumava correndo só pra eu não ficar bravo, eu nunca fiquei bravo, eu adorava ver você saindo do banho com pressa, secando o cabelo com a toalha, eu só queria que você soubesse que você sempre teve o meu coração, e que sim, que eu tenho um coração e que agora ele bate mais lentamente. Que perdeu o compasso, o prumo e o rumo sem você e que eu sinto a tua falta em cada momento dos meus dias. É...eu acho que você conseguiu o que queria. E agora que eu posso ter qualquer uma me dei conta que nenhuma outra será...você. Ah, que saudade de ser o teu amor! E quando me deu a tua ausência, é que eu percebi que o amor eterno do qual você tanto falava, realmente existia ...e que já havia se instalado aqui dentro. Eu nunca vou te mandar essa carta até porque você já deve saber de tudo isso mas caso não saiba, que fique então registrado, sem pretensão alguma, que são só as confissões de um idiota apaixonado. De um vagalume abandonado. De um náufrago á deriva sem uma estrela guia.