Quando se lê essa pergunta "Quem tem medo do Corona?" a
primeira resposta que nos vem em mente é: "Mas, afinal, quem NÃO tem medo
do Corona?".
Sim, acredito que hoje, todo ser humano na face da Terra, tem um grau de
medo de ser infectado pelo vírus que causa a Covid-19, mas as manifestações da
doença em si, são apenas 1 dos inúmeros medos que o Corona Vírus nos
traz.
Alguns deles, inclusive, nem sabíamos que poderíamos ter, algum dia
nessa vida.
Nem de longe eu penso em romantizar um vírus tão agressivo e triste como
esse, mas uma coisa não podemos negar, o Corona está exigindo e testando muito
mais do que a nossa saúde física. Ele nos exige discernimento; paciência e FÉ.
E ele testa todos os nossos limites, como indivíduos e como sociedade. Ele põe
em cheque, assim, sem pudor algum, nossos amores, nossos dissabores, nossos
medos todos e arrisco dizer, ele nos fez repensarmos a VIDA, a um nível muito
mais profundo e amplo.
E isso acontece porque, pela primeira vez em muito tempo para a grande
maioria de nós, estamos tendo TEMPO. Mas assim como tudo na vida, o TEMPO
também pode ser uma bênção ou uma maldição; depende de quem recebe.
Quando eu faço a pergunta "QUEM TEM MEDO DO CORONA?", me
dirijo ao seu subconsciente, caro leitor. Me dirijo ao seu Ego; ao seu sistema
mais profundo e oculto de crenças.
Tirando o medo da morte (que nos é iminente, independente se temos um
vírus ativo a nível de pandemia ou não,), qual outro medo o Corona te trouxe à
tona?
Tenho lido muitos textos, recebido mensagens e visto reportagens com
dados reais, sobre o quanto o Corona vírus tem afetado todas as áreas de nossas
vidas, não somente a biológica e a financeira. Li sobre o aumento real de
pedidos de divórcio em diversos países desde que a quarentena começou e meus
leitores, vira e mexe, me mandando mensagem perguntando "E AGORA?",
como que fica a situação dos solteiros, dos sozinhos? Como e quando vamos poder
encontrar um amor, em meio a isso tudo?
Li essa semana um texto onde um jornalista dizia que nunca tinha
imaginado como ficar em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos em
tempo integral é enlouquecedor.
Li outra jornalista relatando as dificuldades e os surtos por estar
"sozinha" com as crianças dentro de casa.
E como presto muita atenção ao ser humano e seus comportamentos, peço
licença para modificar minha pergunta inicial para "QUEM TEM MEDO DE SI
MESMO?"
Porque se olharmos bem, e agora temos muito tempo para isso, vamos
enxergar sensações e medos que não se manifestam durante a CORRERIA do dia-dia
e esse é o ponto-chave desse texto e dessa reflexão que proponho aqui.
A "correria" nos cansa, é fato; mas, é fato também que ela é
uma desculpa incontestável. Que usamos para os outros e para nós mesmos. A
correria cotidiana é o subterfúgio mais usado pela sociedade atual e quando ela
nos é subitamente surrupiada por um vírus que chega do nada e nos confina em
casa, ou seja, nos confina com nós mesmos, nos obriga a olhar para dentro,
mesmo sem querer, qual desculpa nos sobra? Para justificarmos essa vida
"meia-boca" que vamos empurrando? Qual desculpa nos resta para mal
olharmos na cara do nosso parceiro (a)? Qual desculpa nos resta para não
brincarmos de boneca ou super-herói com nossos filhos? Qual desculpa daremos para
não fazermos amor com nosso companheiro (a) de noite? Qual desculpa diremos à
nossa amiga, para não engatarmos um papo ao telefone? Qual desculpa usaremos
para não responder rapidamente as mensagens no Whatsapp?
Com certeza usaremos o Corona como desculpa daqui para frente, mas até
lá, que desculpa daremos para continuarmos ignorando a nossa alma e os chamados
do nosso coração para termos àquela DR e esclarecermos umas questões pendentes
conosco?
Você tem medo do Corona ou é o seu EGO, que não está mais podendo
escapar e ostentar suas vitórias por aí, suas viagens fantásticas, suas roupas
de grife e dessa forma, está te igualando aos meros mortais que (sinto ter que
lembrar) são da sua mesma espécie?
Você está com medo de ter que assumir completamente o controle das
crianças e aprender a gerenciar o tempo delas; você está com medo de se deparar
mais uma vez com um estranho que divide a casa contigo, mas com o qual você
percebeu que não tem a menor INTIMIDADE e empatia.
Estamos com medo de ficarmos a sós conosco e descobrimos que esse
trabalho que executamos não nos traz a menor felicidade, que o dinheiro que
ganhamos não vale tanto assim o sacrifício. Estamos com medo de admitirmos o
que a correria nos permite jogar para debaixo do tapete, que talvez o nosso
relacionamento já esteja acabado faz tempo e que não amamos mais a pessoa que
dorme conosco. Estamos com medo de não termos assunto com nossos maridos e
esposas, medo de descobrimos que o outro se tornou um estranho para nós; que
não conhecemos nossos filhos tão bem assim e o pior: que não NOS
CONHECEMOS.
O Tempo tem esse poder, de nos jogar na cara o que às vezes fazemos um
enorme esforço para não ver.
Porque é fácil chegar em casa exausto no fim do dia, jantar, sentar no
sofá e ligar o computador, ouvir uma música ou ver uma série, colocar as
crianças no banho e para fazer os deveres de casa e pontualmente na cama às 9
da noite, perguntar se está tudo OK, se todo mundo está saudável, se certificar
que está todo mundo vivo, virar pro lado e dormir.
E, não precisa admitir para mim, caro leitor...reflita para si. Eu sei
que dói e por isso mesmo estamos malucos para voltar à CORRERIA, assim tudo
entra no eixo de novo. Porque a viagem interna para o autoconhecimento é
sofrida e solitária.
Quem aceita o convite vai se deparar muitas vezes com o que não quer
admitir. Vai ter que tirar o tapete para limpar.
E essa limpeza dá trabalho. Leva tempo, exige muita disposição e querer.
Nos traz dores, nos faz abandonar pessoas e situações, coisas e lugares.
Limpar-se e permitir-se mudanças não é mesmo para qualquer um.
O Tempo é um ganho secundário que a pandemia nos trouxe.
O planeta também está aproveitando bem esse tempo sem tanta interferência nossa, dos seres humanos.
O planeta também está aproveitando bem esse tempo sem tanta interferência nossa, dos seres humanos.
Aproveite o seu tempo. Vença as camadas iniciais do medo e desça em si
mesmo.
Seja CEO da sua vida; da sua FAMÍLIA, antes de comandar uma empresa.
Aproveite para conhecer os gostos e os sonhos das pessoas que te cercam.
Olhe para si, se escute! Esse pode ser um momento único na humanidade,
na vida, para fazermos o balanço e repensarmos como seguiremos daqui para a
frente.
O futuro chegou.
Bruna Stamato
0 Comentários