É isso mesmo que você está lendo, amiga: Eu não QUERO ser promovida.

E acredite, nem é o caso de se pensar que eu já cheguei no patamar que almejo. A questão é além do financeiro.Eu tenho algumas pequenas coisas na vida que, nesse momento, são mais importantes que dinheiro.


Você venderia  sua família? Seu filho? Você venderia o tempo que te resta aqui na Terra, por algum preço?

Mas... Pare pra pensar um pouco. Indiretamente, não é isso que já fazemos?


Vivemos tão preocupados em conseguir pagar as enormes contas no final de cada mês, que não sobra tempo para nos preocuparmos com questões pequenas, como aquele desentendimento que a sua filha teve na escola, com uma nota mais baixa que o habitual, com o comportamento cansado do teu cachorrinho e até mesmo com o resfriado que já te pegou pela segunda vez esse mês. Nossos problemas andam tão APOTEÓTICOS que não achamos mais tempo para futilidades, bobagens sem sentido, conversas sem propósito, beijos sem motivos, jantares especiais sem datas especiais, viagens sem férias, ligações por saudade, enfim...coisas bobas. Bobas e VITAIS.


Se você já se deu conta disso, provavelmente está com a mesma sensação que eu, de que o tempo está correndo e que não temos feito nada. Nada do que realmente gostaríamos. Nada do que juramos pra nós mesmos, fazer. Aí vem esse sentimento que é uma mistura de culpa, angustia, com um "Q" de rispidez, afinal, fazemos o que é preciso. Fazemos para sobreviver.


Mas não se pode viver numa sobrevida, a vida toda. Entende?!
Quanto do seu salário você gastou com lazer, com um cinema, um patins novo, um perfume pra si mesma ou um livro, nos últimos meses?


Eu não quero uma promoção. Não por que eu não queira aumentar meu poder aquisitivo, mas porque, nesse momento, estou mais preocupada em aumentar meu poder doador.

Se eu aumentar meu salário agora, aumentarei minhas despesas ou possivelmente só pagarei dívidas, enquanto terei que dar mais do meu tempo, minha atenção, minha alma, para um setor que eu não quero.
Eu quero doar isso tudo para quem e o que realmente me faz feliz.
Eu não quero passar mais tempo no escritório e ter que sair mais cedo na manhã seguinte; Eu quero passar mais tempo tomando meu café, em casa. Eu não quero trabalhar aos fins de semana, eu quero fazer muito “Nada” com as crianças nos meus fins de semana.


Fazer “NADA” é o que anda nos faltando. Precisamos encontrar tempo para rir com os amigos, para assistir uma comédia numa noite de quarta feira! Para lermos um romance qualquer e pegar no sono. Para repousarmos a mente. Num mundo tão competitivo como o de hoje, parece que não podemos perder informações, não podemos ficar offline nunca, não podemos DESCONECTAR. Mas, desconectar é preciso. E é melhor que façamos isso conscientemente do que esperarmos nosso sistema nervoso central dar tela azul e travar de vez (o meu anda pior que o Windows 10).


Eu não quero uma promoção no trabalho, mas eu quero ser promovida de mãe à melhor amiga; Eu quero ser promovida de filha à parceira de todas as horas. Eu quero ser promovida de esposa à companhia preferida.


E para isso tudo acontecer, eu preciso ter não somente TEMPO, mas DISPONIBILIDADE, para oferecer. Não é grana para pagar um curso de mandarim pra minha filha, nem um motorista para levar minha mãe ao médico, nem uma cozinheira pra deixar o jantar pronto. É TEMPO livre; DISPOSIÇÃO. Estar PRESENTE, quando eu estiver presente!
E dinheiro nenhum, nesse momento, vai me pagar isso. 
Poder fazer uma massa com um vinho em plena segunda, ensinar o alfabeto e as vogais pra minha caçula, mostrar vídeos no Youtube e ensinar minha mãe a usar o Messenger e a minha melhor amiga a montar o enxoval do seu bebê! Ou seja, coisas que de tão valiosas... não têm preço.

Eu não preciso de um carro novo, nem uma bolsa luxuosa. Mas eu quero sim, me dar ao LUXO de almoçar em casa, de buscar as crianças na escola. De tomar um banho sem pressa. Poder escrever!


A gente sobrevive sem ir a Nova Iorque e sem comprar roupas novas todo mês. Mas, a gente morre aos poucos por estar ausente, por estar sempre com o corpo em um lugar diferente da mente.

Sem aquele abracinho apertado contando como foi o dia na escola, quando chegamos e os pequenos já estão dormindo e quando saímos e eles AINDA estão dormindo e quando o (pouco) tempo que nos sobra, NÓS é que precisamos (tentar) dormir.


Eu quero uma promoção na V.I.D.A! Passar de mera figurante à protagonista; De simples passageira à pilota de mim mesma. Enfim, desligar o piloto – automático e começar a DECIDIR como será, daqui pra frente. Me entende?!


Meus colegas devem estar me achando uma acomodada, sem ambição, mas eu garanto que as minhas metas são altíssimas, afinal, não é pra qualquer um, querer ir na contramão do sistema e ser, nada mais, do que se é. Quer ambição maior que essa? Poder VIVER e não somente existir?!



Bruna Stamato