Nosso primeiro contato foi...impactante.

Alguma vez você já sentiu uma antipatia inexplicável por alguém, literalmente, à primeira vista? Éramos, agora, como colegas de trabalho na mesma sala: Teríamos que conviver. Eu, bem sem jeito, tentando evitar e sem me entender. Ela, na dela, com aquele “Q” de impetuosidade tão particular. 
Conforme foi passando o tempo, a convivência foi se intensificando. Tivemos várias discussões, enormes desavenças, e aquela antipatia virou uma estranha atração, em um mix perfeito de desejo e repulsa, sutilmente, foi virando amizade. Não dava mais pra negar que existia no ar, uma tensão.
Posso dizer que nos acostumamos com o jeito uma da outra. Passou-se muito tempo e então a discreta amizade virou respeito. Do respeito para a admiração é um pulo. E desconheço base mais forte para o amor, do que admiração. Arrisco dizer que um não existe sem o outro. 
E assim, sem que eu me desse conta, de repente começava a defender minha colega de trabalho das críticas alheias, queria que as pessoas a conhecessem tão bem quanto eu, que vissem como ela fica linda sorrindo ao amanhecer, por trás dessa cara fechada que ela aparenta ter. Quando me vi, conseguia então descrever várias das suas gigantescas qualidades, absolutamente proporcionais ao seu tamanho.

Resumidamente, é assim que vejo, minha história de amor com Sampa. 

Passei alguns anos afirmando que nunca me adaptaria, mais alguns anos na conformidade, e agora estou passando uns anos na saudade, porque, como na maioria das vezes, só nos damos conta do que é importante, quando deixamos de ter.

A maior parte dos meus problemas com ÉssePê, não era ela, era eu; Sem poder fugir do clichê.


Cheguei na selva de pedra uma menina, e amadureci na marra. Nos metrôs, nos trens da vida. Nos “corres”. São Paulo tem trampo, tem cantos, tem ruelas. Hora megalópole, empoderada, sofisticada, hora meninas tímida da favela.
 Sao Paulo te dá isso de bom, não há quem não aprenda algo ali. São Paulo não te dá tempo pra ter dúvidas, pra ficar naquela de ir ou não ir. Lá não rola muito mimimi. É cada um cuidando da sua vida. E que Deus cuide de ti.


São Paulo não é bonita. São Paulo não tem praia. São Paulo é correria. 
Mas, afinal, o que é a beleza, senão uma capa, que na maioria das vezes serve para encobrir a falta de conteúdo interessante? São Paulo não tem dessa, é o que é. Ela não se maquia.


Em Sampa não tem conversa, você tem que saber o que quer. São Paulo tem beleza sim...não aquela beleza comercial e fugaz que tão facilmente se desfaz com o passar da jovialidade. É uma beleza bruta, madura, legítima, de quem sabe quem é. Beleza pura é um quadro de Monet. Mas Sampa tá mais pra retrato de artista de rua; Poesia autêntica em guardanapo de boteco; Declaração de amor em plena madrugada. Não... nada de flores e serenata na calçada. Não é uma princesinha que de tantos elogios já está cansada...Sampa é aquela mina louca, acelerada; À primeira vista desordenada, mas, absurdamente apaixonante, como diz um amigo meu.
Ela tem pegada!
Não tem praia, mas tem um mar de gente que eu nunca vi igual. Pode não ter os Dois Irmãos, mas tem mais “manos” do que qualquer outro lugar do mundo. Não tem mesmo o meu querido Corcovado, mas também está de braços abertos, para receber quem vier.

São Paulo não tem o Pelourinho, mas tem muito axé! 
Tem uma parte da Bahia pra garantir a alegria; Tem Ceará, pra mostrar o que é mão na massa. Tem Paraná, de Curitiba à Cascavel. Tem um pouco do Brasil e do mundo, pra garantir o ar de Torre de Babel.


Existe amor em ÉssePê. Abscôndito no gris atávico e em sorrisos amarelos. Em prédios imponentes e em casebres singelos. Existe amor em ÉssePê. Nas padocas, na garoa, nos rolê.


Quem diria, que alguma coisa realmente aconteceria no meu coração, quando cruzasse a Ipiranga com a São João; A Augusta com a Paulista; Angélica com Consolação...


Ai Sampa City, quem diria que você roubaria meu coração?

Desculpa a demora em admitir, você me conhece... eu tento ser racional, mas sou pura emoção. Acho que temos isso em comum. Eu realmente precisava fazer esta confissão.


Sempre ouvi dizer das grandes diferenças entre amor e paixão. 
A Paixão é frívola, é conquistada por estereótipos baratos, é um encantamento onde rapidamente acaba a poção.

O amor...É calmo, feliz, e dispensa explicação.


Hoje posso dizer que temos um caso. Um romance bacana, um lance sem ciúme. Um relacionamento aberto, daqueles que vira e mexe a gente faz questão de ver, de tomar um capuccino na Paulista no inverno, de rir das tantas histórias que já vivemos, de andar de mãos dadas aos domingos pela Liberdade, de curtir uma baladinha na Mada, de ver o Sol se pôr na sacada do nosso apê. De ser, de estar, de viver. É caso antigo...onde os dois são grandes amigos. É amor pra valer.

Eu tenho o Rio na certidão, a Bahia correndo na corrente sanguínea, e ÉssePê forte no coração.


Que honra a minha, poder dizer, que sou carioca de nascença, baiana de criação e paulistana por pura opção.


Tamo junto, meu!




Bruna Stamato


Foto by Renato Molás - Fotos fantásticas de São Paulo no IG @renatomolas